Bem vindos ao Blog ADESG Europa.Pode seguir - no no nosso perfil clicando AQUI para aceder a toda a informação e fotografias/videos da nossa instituição.
O nosso sitio está AQUI

VENCEDORES DO CONCURSO LITERÁRIO 2011:

- INFORMAÇÃO E SEGURANÇA DO CIBERESPAÇO - UM VECTOR ESTRATÉGICO DA SEGURANÇA E DEFESA NACIONAL - AUTOR: TCor Tm (Eng) Paulo Fernando Viegas Nunes

- TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO - A verdade de Um falso Mundo - AUTOR: Luis Boa Nova Verdade

- TECNOLOGIA, NÃO TECNOLOGIA – Estilhas Coloniais, e mais na vida do Rio de Janeiro no século XXI - AUTOR:
Laton Tombé

Obras a publicitar em breve

Página literária em honra do Senhor General Carlos de Meira Mattos


A presente página é um tributo da ADESG ao Geopolítico e pensador
General Carlos de Meira Mattos, também professor na ESG
● General de Divisão, Doutor em Ciência Política pela Universidade Mackenzie.
● Sua tese de doutorado “Geopolítica e Trópicos”, julgada pelo sociólogo, antropólogo e escritor pernambucano Gilberto de Mello Freyre, obteve conceito máximo.
                       ● Nasceu em 1913 em São Carlos, SP e faleceu em São Paulo, SP, em 2007.



                                  Mensagem do General Carlos de Meira Mattos

O General Meira Mattos deixou-nos uma vasta e expressiva produção literária, cabendo destacar as seguintes publicações, algumas das quais irão periodicamente sendo abaixo transcritas sem mapas e fotos (que podem ser adquiridas por nosso intermédio):
  • “Bandeiras Históricas do Brasil” (1951)
  • “Projeção Mundial do Brasil” (1960)
  • “Pensamento Revolucionário Brasileiro” (1964)
  • “Operações na Guerra Revolucionária” (1966)
  • “A Experiência do FAIBRÁS na República Dominicana” (1966)
  • “A Doutrina Política da Revolução de 31 de Março de 1964? (1967)
  • “A Geopolítica e as Projeções de Poder” (1977)
  • “Brasil—Geopolítica e Destino” (1975)
  • “Uma Geopolítica Pan-Amazônica” (1980)
  • “O Marechal Mascarenhas de Moraes e sua Época” (1983)
  • “Geopolítca e Trópicos” (1984)
  • “Estratégias Militares Dominantes” (1986)
  • “Guerra nas Estrelas” (1988)
  • A Geopolítica e a Teoria de Fronteiras” (1990)
Estratégias Militares Dominantes

A GUERRA Uma cosmovisão filosófica
"Quem prega a guerra é um apóstolo do demônio." (John Ray, Provérbios Ingleses.)
"Resultou disso que todos os profetas armados venceram e os desarmados pereceram." (Maquiavel, Príncipe, Cap. 6.)
Vários filósofos, desde a Antiguidade clássica, vêm se preocupando com o fenômeno bélico, manifestação de violência coletiva conduzida e coordenada por um lider ou por um grupo dirigente.
Não querendo recuar a tempos muito distantes, vamos encontrar no século XVII o filósofo inglês John Locke, considerado um dos fundadores do liberalismo político, dedicar um capitulo de sua obra clássica Ensaio sobre o Entendimento Humano ao tema "Do Estado de Guerra".
Vale a pena reproduzirmos o pensamento de John Locke:
"O estado de guerra é um estado de inimizade e destruição; e, portanto, um estado que declara um desígnio inalterável e calmo com relação à vida de outrem, por meio de palavra ou ação, não apaixonado ou precipitado e o coloca em estado de guerra contra aquele a quem declarou semelhante intenção, expondo de tal maneira a vida ao poder de outrem, a qual lhe poderá ser arrebatada por aquele ou por qualquer outro que a ele venha juntar-se para defendê-lo, esposando-lhe a causa; sendo razoável e justo possa eu ter o direito de destruir aquilo que me ameaça de destruição, pois, pela lei fundamental da na¬tureza, devendo-se preservar o homem tanto quanto possível quando nem tudo se pode preservar, dever-se-á preferir a segurança do inocente; e pode destruir-se um homem que nos vem fazer a guerra ou descobriu inimizade à nossa existência, pela mesma razão que se pode matar um lobo ou um leão, porque tais homens não estão subordinados à lei comum da razão, não tendo outra regra que não a da força e da violência, podendo assim ser tratados como animais ferozes, criaturas perigosas e nocivas que com certeza nos destruirão sempre que lhes cairmos nas mãos."
Locke, com o prestígio de seu pensamento filosófico, e dentro de seu enfoque metodológico sobre a vida da sociedade, reconhece o direito de legítima defesa, ao homem e às nações, na preservação de sua liberdade. Esta liberdade, como bem supremo, surge forte no pensamento lockiano; é a sua marca liberal.
Na floração dos filósofos europeus dos séculos XVIII e XIX, entre outros, Schopenhauer, Hegel e Nietzsche dedicaram-se à interpretação desse ato de violência coletiva. Entre os mais moder¬nos destacamos: Raymond Aron, Anatole Rappoport e André Glucksmann, este último, filósofo da moda da França nos anos 80.
Karl Clausewitz, militar e escritor, não pode ser considerado um filósofo, em termos acadêmicos, mas filosofou sobre a guerra com grande proficiência e autoridade. Sua obra principal Vom Kríege (Da Guerra) mereceu estudo de numerosos pensadores e fi¬lósofos de renome como Lenine, Raymond Aron, Rappoport e agora Glucksmann.
Prefaciando a edição francesa de Vom Kriege, o Prof. Rappoport afirma que Clausewitz pode ser considerado o filósofo da guerra, assim como Francis Bacon (Novum Organum), o filósofo da ciência, Maquiavel (Príncipe) o filósofo da política, Hobbes (Leviathan) o filósofo da sociedade, Hume (Inquérito à Compreensão Humana) o filósofo do conhecimento, Adam Smith (A Riqueza das Nações) o filósofo da economia, Marx (O Capital) o filósofo da sociedade sem classes.
Vom Kríege faz profunda investigação sobre a fenomenologia da guerra, sua origem, natureza e implicações no contexto histórico e sociológico. Clausewitz faz filosofia quando procura compreender a essência do fenômeno bélico e suas derivações no processo existencial da humanidade. Por isto, sua obra, editada em 1832, após sua morte, despertou e desperta enorme interesse e continua a ser objeto de interpretações dos filósofos.
Conceituando a guerra, diz Clausewitz:
"A guerra é um ato de violência destinado a forçar o inimigo a submeter-se à nossa vontade."
Este pensamento do pensador militar prussiano exprime, de forma completa e clara, a guerra vivida e estudada por Clausewitz, contemporâneo que foi das chamadas Guerras da Revolução e das Campanhas Napoleônicas.
O conceito c1ausewitziano transformou-se no paradigma do pensamento do Ocidente sobre a guerra. Dominou o espírito dos autores alemães, franceses e russos durante este século e meio que nos separa, hoje, da primeira edição do Vom Kriege.
Mesmo se aceitando ipsis litteris a definição de Clausewitz, não podemos deixar de reconhecer que o ambiente e os meios que envolvem a guerra atual alteram a nitidez cristalina que caracterizava, na época, o pensamento do autor prussiano.
O "ato de violência" entendido por Clausewitz era de violência física, choque armado, duelo militar; no decorrer destes 50 anos a eficácia progressiva da violência psicológica veio se acrescentando e é hoje reconhecido instrumento de guerra, através das modernas práticas de sofisticadas técnicas de submissão da vontade do inimigo. Sob este aspecto, o pensamento militar do Ocidente, encarnado pelo autor prussiano, já começa a aceitar os valores milenares da concepção da guerra chinesa, expressada por Sun Tzu (cerca de 500 anos antes de Cristo).
A obra clássica de Sun Tzu se apóia num trecho que revela a chave de sua filosofia. Diz o autor chinês:
"A guerra é uma preocupação muito séria para o Estado; ela necessita ser profundamente estudada."
Pela primeira vez, o escritor oriental caracteriza a constância da guerra na vida dos Estados, afirmando:
"A luta armada não é uma anomalia efêmera, mas um ato consciente, que, por conseqüência, deve ser racionalmente analisado."
Penetrando no tema que caracteriza a essência de sua teoria sobre a guerra, o predomínio da inteligência sobre a brutalidade, da habilidade sobre o choque, da subversão psicológica da mente do adversário sobre a batalha sangrenta, assim se manifesta o general e filósofo chinês:
"O general que for considerado mestre na arte da conquista deve saber frustrar os planos de seu inimigo, comprometendo suas alianças, criando desavenças entre o soberano e seus ministros, entre os superiores e inferiores, entre os chefes e subordinados. Seus espiões e seus agentes devem estar em toda parte, colhendo informações, semeando discórdias e fomentando a subversão. O inimigo deve ser isolado e desmoralizado; sua vontade de resistência, quebrada. Assim, o inimigo cairá sem combate, seu exército será conquistado, suas cidades ocupadas e seu governo substituído. Somente quando não for possível derrotar o inimigo por esses meios é que se deve recorrer à força armada, e assim mesmo, da seguinte forma: -por mais curto período; -com o menor sacrifício de vidas humanas; -infligindo ao inimigo as menores perdas materiais possíveis.
Arremata Sun Tzu:
-"o bom estrategista aquele que é capaz de derrotar o inimigo sem atacá-lo, de ocupar as cidades inimigas sem destruir os seus bens, de ocupar seu território sem necessidade de choques sangrentos."
Ainda conceituando a guerra, Clausewitz destaca tratar-se "de um instrumento da política nacional". O Prof. Rappoport, prefaciador da edição francesa do Von Kriege, considera estas três características: "instrumento", "política" e "nacional", a essência da visão cosmológica da guerra pelo autor. Partindo dessas três características, analisa a evolução do conceito c1ausewitziano até a nossa época. Raymond Aron se aprofunda no aspecto político e nacional da guerra, partindo do conceito do autor prussiano de que a guerra é uma forma de ação política, um instrumento da política; estabelece a clara hierarquia entre o objetivo político e a ação militar ou, sintetizando, entre o poder político e o poder militar.
• O Prof. Rappoport estima estar hoje abalada a solidez da idéia clausewitziana de política e de nacional, na conceituação dos conflitos armados. Após a disseminação da teoria marxista, apregoando os valores do proletariado internacional, verifica que o sujeito da guerra -política nacional -começou a ser permeada por idéias internacionalistas de luta de classes.
Combinando-se os juízos críticos de Raymond Aron e Rappoport, ambos partindo da teoria de Clausewitz que dominou o pensamento militar ocidental durante estes 150 anos, sentimos que duas influências começam a ocupar espaço na visão da guerra moderna e na do futuro - a forma de violência e a internacionalização dos conflitos.
A descoberta por Rappoport de um novo pensamento neoclausewitziano, incorporando estas duas influências, não é aceita por Raymond Aron que, embora reconhecendo os traços de evolução apontados, observa, nos dias de hoje, a continuidade no essencial do pensamento clausewtziano, e que equivale a dizer, a predominância da violência, não importa a forma, e a predominância do interesse da política nacional.
Entre os conceitos do autor prussiano, o que se tornou mais divulgado, graças talvez a Lenine, foi o de que "a guerra é a continuação da política por outros meios". Em seu opúsculo La  , faillite de la L'internationale  Lenine, depois de procurar se apoiar em algumas idéias do escritor prussiano, diz a seu respeito: "Clausewitz é reconhecido como um dos maiores historiadores militares cujas idéias foram fecundadas por Hegel."
Mas, o pensamento de Lenine que colocou Clausewitz na berlinda da polêmica internacional constante foi a contrafação da frase do prussiano, acima citada, sobre a relação política e guerra. Para Lenine "a guerra é continuação da política por outros meios". Fazendo da guerra o estado permanente e a política o instrumento transitório, o pensador e líder soviético inverteu o sentido substantivo da concepção do escritor prussiano.
Mas, antes de tratarmos da Estratégia sob os parâmetros dos estrategistas militares, vejamos alguns conceitos sobre a mesma, manifestados por filósofos.
Raymond Aron encontra três componentes principais na teoria estratégica: conhecimentos apoiados na ciência natural, idéia conceptual, obediência a princípios válidos na maioria dos casos. Traduzindo para a linguagem militar diríamos: conhecimento geográfico da área de operações e dos meios, conceito de objetivo e aplicação dos princípios gerais de guerra (informação, segurança, unidade de comando, articulação dos meios etc.) ..
Para André Glucksmann o conceito de guerra impõe um cálculo estratégico. Vemos, assim, a estratégia-cálculo de como fazer a guerra. No fundo, recaímos, como veremos mais adiante, na mesma coisa essencial, embora seja diferente a linguagem do filósofo e do estrategista militar.
Em síntese encontramo-nos diante de duas filosofias nítidas sobre a guerra: a da submissão pelo uso da força bruta (polarizada nas idéias de Clausewitz), e a da submissão pelo controle das mentes (apresentada por Sun Tzu). Em ambas, busca-se o mesmo fim -a derrota militar -em conseqüência, o domínio político.
No cenário bélico que se apresenta na atualidade e se vislumbra para o futuro, percebe-se, permeadas nas concepções estraté¬gicas modernas, estas duas concepções filosóficas da guerra.
Segundo Maurice Duverger, a Política para uns, é a ciência do Estado, enquanto para outros é a ciência do Poder. Esta dicotomia, para nós, não existe de forma n ítida. O poder é inerente ao Estado, tanto assim, que o Estado inexiste sem o poder.
Buscando conceitos entre os nossos pensadores da Ciência Política ou da Ciência do Estado, encontramos que Themistocles Cavalcanti diz que a "Ciência Política trata dos fenômenos que se enquadram na organização, na estrutura, no funcionamento do Estado e no exercício do poder".
A Estratégia é uma decorrência da Política, razão porque para conceituá-la devemos antes conceituar a Política. Esta é a arte ou ciência de governar. E a concepção de como governar o Estado. A Estratégia é a arte de executar a Política. Compreende a ação, ou as ações, necessárias para alcançar os objetivos da Política. Resumindo diríamos: Política é a concepção de governo e Estratégia é a ação decorrente desta concepção. Política é o que fazer; Estratégia, como fazer.
Neste quadro de conceitos vamos incluir a Geopolítica e a Geoestratégia. A primeira é uma parte da Ciência Política inspirada nas realidades geográficas do Estado. A Geoestratégia é a Estratégia aplicada às áreas privilegiadas pela Geopolítica (às áreas consideradas criticas).
Sendo a Estratégia a aplicação de uma Política, haverá uma Estratégia para cada Política Geral (nacional), Econômica, Psicossocial e Militar. Sendo a guerra, segundo conceito de inúmeros autores, a Política impulsionada na busca de seus objetivos por meios violentos (Montesquieu, Rousseau, Clausewitz, Jomini, Mahan, Mackinder, Lenine), a Estratégia Militar é a arte de conduzir a Guerra.
Considerando a Estratégia decorrência de uma concepção política, assim a compreendendo, podemos afirmar que a Política escolhe objetivos para atender aos interesses do Estado (ou da aliança de Estados) e a Estratégia seleciona meios e estabelece prioridades para alcançar estes objetivos.
Houve época em que se fazia confusão sobre a relação de interdependência entre política e Estratégia. Desde o início do século XIX essa confusão não é mais aceitável. Senão, vejamos o pensamento dos principais mestres da Estratégia. Não há dúvida que foram Clausewitz no século XIX, Liddell Hart e Beaufre no século XX. O primeiro teve como campo de observação as inovações trazidas ao campo da Estratégia pela Revolução Francesa e as guerras napoleônicas. Sua genialidade está em ter sabido sintetizar e traduzir em idéias gerais as constantes estratégias produzidas por essa época de inovações no campo de guerra; inovações relacionadas muito mais ao âmbito das transformações políticas e à genialidade de Bonaparte do que à evolução da técnica de produção de engenhos bélicos.
Liddell Hart, participante da Grande Guerra e da II Guerra Mundial, retirou das observações colhidas nos campos de batalha desses dois conflitos maiores os ensinamentos que soube traduzir numa doutrina estratégica lógica e coerente.
O General Beaufre colocou no quadro da Estratégia moderna os efeitos de uma nova e terrível arma - a bomba atômica, a arma nuclear.
Desejando apoiar o nosso conceito inicial de que a Estratégia é uma decorrência da Política, vamos alinhar alguns pensamentos destes três clássicos da Estratégia.
•             Clausewitz -"A guerra é a continuação da Política por outros meios."
•             Liddell Hart -"A melhor Estratégia é aquela que atende ao objetivo político por meio de hábeis demonstrações de força, pela mobilidade, eventualmente sem travar a batalha."
•             General Beaufre -"A guerra total é concebida em nível de Política governamental, que fixa os domínios das Estratégias militar, política, econômica e diplomática."

Assim estabelecidos os campos doutrinários da Política e da Estratégia moderna, baseados no pensamento dos três mestres que mais se distinguiram no estudo da Estratégia nesses últimos 200 anos, faremos algumas considerações que nos darão uma visão mais ampla do campo de estudo da Estratégia militar contemporânea.
Desde o início observamos que a palavra estratégia, de origem grega - estratego, era o general grego comandante de exércitos, do ponto de vista semântico vem evoluindo através dos tempos. Antes do século XV III esta palavra se referia sempre à arte dos ge¬nerais, tinha um sentido puramente militar.
A partir da Revolução Francesa de 1793 e das campanhas napoleônicas que se seguiram, as guerras que até então eram objeto de decisões fechadas de gabinetes e dependentes da capacidade dos tesouros reais em contratar exércitos mercenários, formados muitas vezes por profissionais estrangeiros, transformaram-se em guerras nacionais, com o povo em armas e a participação de toda a Nação. Esta transformação política e social levou Clausewitz a escrever:
"As coisas mudaram com a eclosão da Revolução Francesa..." Uma nova força que ninguém antes poderia imaginar fez sua aparição em 1793. A guerra repentinamente transformou-se numa preocupação do povo inteiro, e de um povo de 30 milhões de habitantes referindo-se à França. A participação do povo na guerra fez entrar a Nação inteira em um jogo que antes era objeto de preocupação apenas do gabinete e de exércitos mercenários. Desde aí, deixou de haver limites para a guerra. Antecipava Clausewitz os conceitos de guerra total que 100 "nos mais tarde foram teorizados pelo General alemão Ludendorf.
A guerra nacional envolvendo a Nação inteira na sorte de conflitos bélicos produziu uma generalização do conceito de estratégia que, de arte de conduzir as batalhas, passou a ser a arte ou ciência de conduzir a Nação para a vitória. É o próprio Clausewitz quem antecipa esta evolução do conceito de estratégia quando escreve:
"A guerra não mais pertence ao domínio das artes ou das ciências, mas se relaciona com a existência social. Ela é um conflito entre grandes interesses decididos pelo derramamento de sangue. Parece-se mais com a Política."
Destes pensamentos de Clausewitz, que viveu alguns anos na Rússia Imperial onde teve uma cátedra de Professor em Ciência Política e Estratégia, Lenine extraiu o seu conceito de guerra permanente. Parafraseando Clausewitz, Lenine escreveu sua célebre frase de que "a Política é a continuação da guerra por outros meios".
Como o próprio Clausewitz previra, no futuro haveria, além da estratégia militar, estratégias correspondentes aos campos de generalização - do conflito bélico -político, econômico, social e outros.
No pensamento militar moderno predominam três escolas principais sobre a Estratégia:
•             estratégia de ação direta;
•             estratégia de ação indireta,
•             estratégia de dissuasão.

Cada uma dessas escolas tem o seu pensador principal. Clausewitz é o preconizador da primeira, Liddell Hart da segunda e o General Beaufre da terceira.
Embora Clausewitz tenha falecido em 1831, Liddell Hart em 1970 e o General Beaufre em 1975, distanciados no tempo de um século e meio, as idéias de Clausewitz continuam atuais e, em grande parte, foram adotadas pelo grande pensador contemporâneo Raymond Aron. A este respeito vale aqui reproduzirmos o conceito do militar francês, Coronel Guv Doly, Professor da Escola de Guerra, no seu livro Strategie France Europe: "Fora do acontecimento extraordinário que constituiu o aparecimento da arma nuclear em 1945, nada realmente de novo aconteceu no campo da Estratégia."
Segundo Karl von Clausewitz, no seu livro clássico Da Guerra, "o objetivo político da guerra é destruir as forças militares do inimigo e conquistar o seu território". Como Estratégia militar para alcançar este objetivo político o escritor alemão prescreve -"travar a batalha, não há outro meio". Como princípios estratégicos do pensamento de Clausewitz encontramos: "concentrar as forças e lançá-las contra a massa principal do inimigo, de sorte a chegar à decisão pela batalha, se possível em uma só ação e um só momento. A chamada Estratégia de ação direta, contra as forças principais do inimigo (o seu centro de gravidade), realizando, se possível, a surpresa estratégica. Estudando as campanhas de Napoleão, Clausewitz seleciona como fatores de surpresa estratégica a mobilidade, a velocidade, as ações diversionárias e a divulgação de informações falsas, visando a iludir o inimigo sobre o ponto de aplicação do golpe decisivo.
Analisando a aplicação dos princípios estratégicos de Clausewitz na guerra contemporânea, o Coronel Guy Doly, já citado, argumenta que no quadro do conflito militar moderno, entre as superpotências e as grandes potências, o chamado conflito Leste-Oeste, em que se confrontarão as forças da OTAN e do Pacto de Varsóvia, o objetivo de destruição das forças inimigas e ocupação de seu território, buscando o seu centro de gravidade, não parece mais real, porque isto imporá um preço excessivo que nenhum dos contendores tem condições de pagar. Vamos ver, quando analisarmos a Estratégia de ação direta, esta impossibilidade com os meios bélicos atuais que possuem ambos os lados rivais, de se chegar a uma destruição maciça, como defende Clausewitz, sem incorrer no risco certo da destruição mútua. A resposta será tão violenta e mortífera como o ataque.  
Fora do quadro do conflito Leste-Oeste, nas guerras locais e regionais, na chamada guerra convencional, poderemos, até certo ponto, considerar válidos os princípios estratégicos clausewitzianos, desde que um dos lados seja capaz de concentrar superioridade de meios e aplicá-los de surpresa no centro de gravidade dos dispositivos de forças inimigas.
Passaremos agora a analisar as idéias principais de outro clássico da estratégia, o inglês Liddell Hart, que, ao contrário de Clausewitz, é o defensor da chamada Estratégia de ação indireta, uma variante da estratégia de ação direta.
Liddel Hart foi o primeiro autor a integrar os conhecimentos das duas guerras (de 1914-1918 e de 1939-1945). Os dois fatores que mais influíram nas operações terrestres nesses dois conflitos e vieram a influir na estratégia contemporânea foram o emprego do avião e do carro de combate, emprego experimental na Grande Guerra e maciço na II Guerra Mundial. Dessas inovações da tecnologia e da indústria bélica, o escritor inglês tirou duas conclusões estratégicas: da importância da aproximação indireta e da mobilidade na manobra estratégica.
A I Guerra Mundial, de que Liddell Hart foi testemunha, fora um massacre de quase quatro anos numa guerra imobilizada de trincheiras. Morreram 10 milhões de homens de ambos os lados. A chegada de meio milhão de norte-americanos, em 1917,comandados pelo General Pershing, conseguiu desequilibrar o impasse estratégico dando superioridade de meios aos aliados e obrigando os alemães de Guilherme II, o Kaiser, a procurar um armistício.
A I Guerra Mundial (1914-1918) marcou os primeiros ensaios de emprego da telegrafia, dos submarinos, do carro de combate e do avião. Estes dois últimos, ainda rudimentares, de reduzido peso e raio de ação, não foram instrumentos suficientes a alterar o impasse de equilíbrio estratégico que imobilizara as frentes. Mas, o desenvolvimento da tecnologia na fabricação de aviões e carros de combate mudou o ambiente estratégico da II Guerra Mundial, iniciada propriamente com a invasão da Polônia em 1939. A blitzkrieg alemã contra a França composta por enorme massa de carros blindados, apoiada por densas nuvens de aviões de combate, abriu o quadro estratégico característico desse conflito mundial.
A II Guerra Mundial caracterizou-se como uma guerra de movimento. A idéia de imobilizar as frentes de combate nas fronteiras, por meio das posições superfortificadas, as famosas linhas Siegfried (alemã) e Maginot (francesa), revelaram-se vã ilusão estratégica e desperdício. Em toda parte, no Pacífico, no Atlântico, na África do Norte, no continente europeu, o que caracterizou a guerra foram os movimentos estratégicos de grande envergadura, como as operações anfíbias na invasão do Norte da África, da Sicília, do Sul da França e da Normandia, reunindo imensa massa de meios marítimos, aéreos e terrestres, e, também, as operações dos Exércitos no Norte da África e na Europa. Nenhuma barreira física ou humana foi capaz de conter por muito tempo o poder de choque das massas de blindados, seguidas de forças motorizadas e apoiadas pela aviação de acompanhamento ao combate e de bombardeio. A observação aérea e a mobilidade facultavam a realização da surpresa estratégica sobre um flanco ou retaguarda.
Este quadro de guerra de 1939-1945 enriqueceu os conheci¬mentos estratégicos de Liddell Hart, que se tornou o principal analista e escritor militar de sua época. Sobreviveu por 25 anos ao final da última Guerra Mundial e durante esse período acompanhou atentamente o vertiginoso desenvolvimento da tecnologia militar e sua aplicação no campo da Estratégia. Produziu vários livros sobre a Estratégia militar, até a sua morte.
Na síntese de suas apreciações no pós-guerra de 1939-1945 Liddell Hart oferece-nos suas conclusões que contrariam os princípios fundamentais da Estratégia da ação direta de Clausewitz que, como vimos, preconizava "atacar com superioridade de forças e a violência máxima a massa principal das forças inimigas, procurando, para esta ação, a surpresa estratégica".
Liddell Hart, no seu livro sobre Estratégia, editado em 1954, contraria o pensamento de Clausewitz e propõe como nova estratégia, a ação indireta, que pode ser assim traduzida:
"A Estratégia mais conveniente é a que permite conduzir a batalha da maneira mais vantajosa e muitas dessas condições vantajosas, se aplicadas, poderão conduzir ao desequilíbrio das forças do inimigo com um mínimo de combate; em síntese, a Estratégia perfeita será obter a decisão pela derrota do inimigo e sua rendição sem combate."
A Estratégia de ação indireta, assim exposta, procura tirar o máximo proveito da mobilidade, da velocidade e da surpresa oferecidas pela tecnologia militar moderna para desequilibrar a estrutura do dispositivo inimigo.
E, numa quase obsessão de virtuosidade estratégica, imagina até derrotar as forças militares inimigas pela simples manobra estratégica.
É  interessante observar-se neste ponto de nossas considerações que Lenine, um discípulo de Clausewitz em assuntos estratégicos, colocando o seu ingrediente político-revolucionário na Estratégia, já havia escrito : "A melhor Estratégia consiste em retardar o início das operações militares até que a desagregação moral do inimigo nos permita, facilmente, desferir-lhe o golpe mortal"
No conceito de Lenine encontra-se a semente da chamada "guerra revolucionária", que será objeto de nossa atenção em seguida, e que visa a minar o moral do inimigo, "atuando essencialmente sob sua mente, através da propaganda, dos atos de terro¬rismo e de intimação".
É  interessante se notar, também, que os conceitos estratégicos de ação indireta de Liddell Hart tiveram como precursores o chi¬nês Sun Tzu (500 anos antes de Cristo) e seus discípulos contemporâneos Mao Tsé-Tung e o General vietnamita Giap.
Vale a pena, aqui, reconstituirmos a influência de Sun Tzu e de Mao Tsé-Tung, o primeiro precursor e o segundo grande mestre da Estratégia de ação indireta.
O clássico de Sun Tzu, A Arte da Guerra, foi escrito nos últimos anos do século VI antes de Cristo. Consta que o autor o ofereceu ao Rei Ho-Iu, da dinastia Wu. Sua difusão no Ocidente deve-se ao Padre Amiot, um jesuíta missionário em Pequim. A tradução do Padre Amiot foi divulgada em Paris em 1772. Assim, podemos di¬zer que a teoria estratégica de Sun Tzu é inteiramente diversa ao pensamento estratégico de Clausewitz, que teve predominante influência na Europa a partir dos anos do lançamento de sua obra clássica Von Kriege, 1832, até hoje.
Sun Tzu considerava a guerra "um assunto de vital importância para o Estado", exigindo, por isto, acurado estudo e análise. Ele nos oferece a primeira tentativa conhecida de formular uma doutrina estratégica, baseada em planejamento e em princípios de conduta das operações. Acredita que um estrategista deve ser capaz de submeter as forças inimigas sem engajá-Ias na batalha, de ocupar as suas cidades sem necessidade a um cerco destruidor e de derrubar seu governo sem batalhas sangrentas.
Sun Tzu estava convencido de que a Estratégia envolve uma habilidade manobreira mais do que o choque de forças. A superioridade numérica, por si só, não representava vantagem. Considerava Sun Tzu que os fatores morais, intelectuais e circunstanciais são mais importantes no confronto de Exércitos do que os fatores da força trsica e aconselhava os reis e comandantes a não se iludirem com a superioridade física de seu poder militar. O escritor militar chinês não concebia a guerra em termos de massacre e destruição; o verdadeiro objetivo estratégico, dizia, é conquistar o território e as forças inimigas intactas, ou tão intactas quanto possível.
Acreditava Sun Tzu que o planejamento estratégico meticuloso, baseado na informação correta sobre o inimigo, era fator que contribuía para uma decisão militar rápida. Sempre levava em conta os efeitos da guerra sobre a economia e, indubitavelmente, foi o primeiro a observar a inflação dos preços inevitável durante as guerras. Afirmava: "Nenhum país é beneficiado pela guerra prolongada." Preocupava-se com os problemas logísticos de apoio ao Exército.
Sobre as qualidades de um bom general dizia: "Boa moral, emocionalmente sereno, controlado de atitudes, conhecedor da influência dos fatores, do terreno e das condições climáticas sobre a manobra estratégica." Antes da abertura das hostilidades, Sun Tzu aconselhava o lançamento de atividades clandestinas no interior do país inimigo, espalhando boatos falsos e informações contraditórias.
Os princípios de Guerra Revolucionária nós os encontramos inicialmente na concepção de Sun Tzu. Como vimos, o estrategista chinês - o mais antigo mestre da Estratégia de ação indireta aconselhava a, antes do início das atividades bélicas, e também durante as mesmas, infiltrar-se no interior do país inimigo, espalhando boatos falsos e informações contraditórias, buscando enfraquecer o seu moral e a sua vontade de resistir. Uma ação sobre a mente do inimigo.
Mao Tsé-Tung foi o principal discípulo de Sun Tzu. Nascido em 1893, Mao Tsé-Tung foi absorvido pelas idéias políticas de Marx e Engels, quando ainda muito jovem, assistente da Biblioteca da Universidade de Pequim. Em 1920, era já um comunista acabado. Desde este momento lançou-se à grande missão de sua vida - criar uma nova China baseada nas idéias políticas de Marx e Engels. Crescendo na hierarquia do comunismo chinês, Mao Tsé Tung tornou-se, ao mesmo tempo, um teórico da guerra revolucionária e um general combatente incansável na luta contra as forças do Exército Nacionalista de Chiang Kai-Chek.
Mao Tsé-Tung, partindo dos conceitos básicos de Sun Tzu, desenvolveu uma estratégia, uma tática e uma logística para a guerra. Suas teorias impressionaram Lenine e foram incorporadas pelos soviéticos que as utilizam como um dos mais eficazes instrumentos de agressão aos países que pretendem conquistar ou neutralizar no quadro do conflito mundial. Atualmente, vemos a guerra revolucionária em pleno desenvolvimento; particularmente no Afeganistão e na América Central.
Em um dos seus livros, em 1937, disse Mao Tsé Tung: "A primeira lei da guerra é preservar nossas forças e destruir as forças do inimigo." Do ponto de vista estratégico, Mao concebeu esta forma de guerra como passando por fases sucessivas, através das quais ela vai aumentando sua área de influência e o grau de submissão da Nação atacada.
A primeira fase é dedicada à organização, consolidação e preservação de uma base regional. A segunda fase visa à progressiva expansão dessa base. A terceira fase é a fase da decisão, quando a destruição e conquista da Nação são objetivadas.
Quanto às táticas que Mao Tsé Tung aconselha, acompanhando essas três fases da manobra estratégica da guerra revolucionária, destacaremos: a primeira fase (de organização, consolidação, preservação de uma base regional) compreendendo:
•             escolher o local para a base em região isolada e de difícil acesso;
•             organizar um centro de treinamento de voluntários, agitadores e propagandistas;
•             espalhar propagandistas entre a população próxima à base, a fim de persuadir e convencer os habitantes, transformando-os em adeptos da causa revolucionária;
•             em conseqüência, criar em volta de cada base um cinturão protetor de simpatizantes em condições de assegurar o recrutamento de homens, a coleta de informações e o suprimento de alimentos. O processo a desenvolver nessa fase é essencialmente conspiratório, clandestino, metódico e progressivo. As operações militares só são admitidas eventual e esporadicamente.
Na segunda fase (de expansão da base) a ação direta assume um papel cada vez mais relevante. As práticas mais usadas são:
•             atos de sabotagem e terrorismo;
•             seqüestros de colaboracionistas e reacionários;
•             ataques de surpresa a postos isolados da política ou do Exército e apropriação de armas e recursos logísticos.

O objetivo procurado nessa fase, além da expansão da área de influência pela propaganda, o terror e a intimidação, é a apropriação de armas, explosivos, dinheiro, material de saúde e equipamentos de comunicação. As ações são praticadas por guerrilhas que vão se tornando cada vez mais adestradas e melhor equipadas.
Os habitantes das áreas envolvidas são submetidos a constante propaganda para aderirem à causa revolucionária e dar à mesma as características do movimento de massa.
A terceira fase (fase da decisão, ou destruição do inimigo) como se vê, dependerá do êxito alcançado nas fases anteriores. A teoria de Mao Tsé Tung, para esta fase, prevê que as guerrilhas já consolidadas se integrem num Exército revolucionário capaz de desafiar o inimigo (as forças do Estado) em combates do estilo guerra convencional. Esta fase deve ser prolongada por negociações, com postura de ameaça militar, durante as quais as forças revolucionárias aproveitam para melhorar suas posições (no campo militar, político, social e econômico). Durante as negociações, pouca ou nenhuma concessão deve ser esperada do comando das forças revolucionárias, cujo único objetivo é criar pelo cansaço, pelo jogo de impasses sucessivos, melhores condições para garantir sua unidade e garantir o processo vitorioso de sua causa.
O sucesso da "guerra de guerrilhas", como usualmente é chamada a guerra revolucionária, a partir da segunda fase, depende essencialmente da montagem de uma boa rede de informações que assegure sempre, às forças revolucionárias, conhecimento preciso sobre as atividades e possibilidades das forças governamentais e lhes permita tirar a máxima vantagem das ações de surpresa.
No tocante à logística das guerrilhas é o próprio Mao quem diz em sua teoria que a "guerrilha não tem retaguarda". Seus suprimentos devem ser retirados da própria área envolvida. O inimigo deve ser a principal fonte de recursos em armas, equipamento e munição. Ele mesmo escreveu certa ocasião: "Eu tenho pedidos de suprimentos aos arsenais de Londres assim como aos de Hanyang e, o que é mais importante, esses pedidos nos são entregues pelas unidades de transportes do inimigo que assaltamos."
O pior é que não se tratava de uma brincadeira de Mao, mas de uma crua verdade. Vários comboios de armas e de suprimentos destinados ao Exército Nacionalista de Chiang Kai Chek caíram inteiros em mãos das forças de Mao, vítimas de ataques de surpresa, muitas vezes em conivência com elementos nacionalistas adesistas.
Com a explosão das duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, em 1945, houve um tremendo impacto no campo da Estratégia militar. Surgia uma nova arma de poder destruidor e mortífero nunca antes imaginado e contra a qual não se vislumbrava nenhum recurso de defesa. A ameaça de guerra nuclear como que paralisou, por algum tempo, a mente dos estrategistas militares.
Inicialmente, o monopólio da bomba nuclear esteve com os Estados Unidos. Em 1949 a União Soviética explode sua primeira bomba atômica, pondo fim a este monopólio. Passa a haver uma resposta estratégica para a bomba atômica - a represália atômica. Começa a escalada atômica. Estados Unidos e União Soviética aumentam seu arsenal e repetem suas explosões em campos de prova afastados da Sibéria e em ilhas do Pacífico.
O crescimento dos arsenais apavora a humanidade, ante o perigo de uma hecatombe de dimensões mundiais. A antiga bomba atômica, de fissão nuclear, é substituída por outra muito mais poderosa, de fusão nuclear - a bomba de hidrogênio.
Ao mesmo tempo as superpotências-Estados Unidos e União Soviética-colocam sua tecnologia e indústria a serviço dos vetores de transporte das bombas: é a corrida dos mísseis que de continentais passam a intercontinentais e hoje exploram o espaço sideral alcançando outros planetas.
Neste quadro, de engenhos nucleares fabricados aos milhares, cada vez mais potentes e mortíferos, e de mísseis transportadores de raio de ação ilimitado e também cada vez de maior precisão, que surge a Estratégia de dissuasão do General francês Beaufre.
Segundo o General Beaufre, sintetizador brilhante de Estratégia da guerra total de nossa época, "a Estratégia é a arte da dialética das vontades empregando a força para resolver seus conflitos. É a vontade dos homens, a vontade dos povos, e ainda hoje é necessário que eles tenham vontade de combater e vencer".
Sobre a guerra nuclear escreve Beaufre que a dissuasão nuclear é a Estratégia que visa a paralisar o inimigo pelo risco de ser destruído pela represália nuclear. A situação que estamos vivendo atualmente. Os arsenais nucleares acumulados pelos Estados Unidos e União Soviética e os mísseis que possuem, criam o ambiente paralisante da autodestruição do atacante. Como o objetivo político da guerra é a vitória e não a autodestruição, aí se encontra o efeito paralisante da Estratégia de dissuasão nuclear do General Beaufre.
Mas o General Beaufre, em sua Estratégia da guerra total, não se fixa apenas nos aspectos do conflito nuclear. Escreve ele:
"A dissuasão nuclear, paralisando o conflito bélico, deixa uma margem muito estreita de liberdade de ação estratégica: aquela que é explorada pela Estratégia soviética sobre a comu¬nidade mundial. A ação política e econômica, a utilização de movimentos revolucionários e mesmo conflitos locais que procuram escapar à paralisia imposta pela dissuasão nuclear."
Estamos hoje diante de um novo quadro da guerra, a chamada guerra das estrelas, cuja tecnologia e estratégia advêm dos .progres¬sos alcançados nos campos de emprego dos mísseis, dos satélites e, particularmente, do raio laser. Julgam os técnicos e estrategistas norte-americanos do "Strategic Defense Initiative" que é possível assegurar a proteção estratégica do território norte-americano através de um sistema de estações emissoras de raio laser, estações de terra e em satélites, capaz de desintegrar em órbita os mísseis atacantes e as cabeças nucleares.
Este é o assunto de maior atualidade e também o mais polêmico no quadro da mais moderna Estratégia militar.
A Estratégia militar contemporânea - de ação direta, de ação indireta em cujo contexto se inclui a guerra revolucionária e a dissuasão nuclear - pode ser aplicada a qualquer forma com que venha se apresentar a guerra moderna:
•             a convencional;
•             a nuclear; e
•             a revolucionária.

Os novos conflitos bélicos têm como tendências se forem locais, desenvolverem-se num quadro misto de guerra convencional e guerra revolucionária, sucessivas ou paralelamente. Se forem gerais, envolvendo países comprometidos no confronto Leste - Oeste, Pacto de Varsória e OTAN, poderão combinar as três formas de guerra acima citadas, devendo o emprego da arma nuclear realizar- se ou no chamado ambiente tático-operacional, o que será mais provável, ou, em caso desesperador, de forma ilimitada, provocando a horrível hecatombe que todos procuram evitar.
A divergência entre a direção política e o comando militar dos conflitos bélicos surgiu de maneira evidente no decorrer da IGrande Guerra. Na Europa, até a Guerra Franco-Prussiana de 1870 o costume corrente era os reis e príncipes governantes assumirem simultaneamente o comando das operações militares. A publicação das obras de Clausewitz e sua leitura malfeita permitiu que se afirmasse" durante quase 100 anos, que o pensador prussiano preconizava que "uma vez declarada a guerra, a direção cabe aos soldados e marinheiros e os políticos passam para o segundo plano até a Vitória (ou derrota)", Várias gerações de chefes militares foram educadas sob a inspiração desta equivocada interpretação das idéias clausewitzianas. Justamente um dos pontos mais importantes do pensamento do escritor prussiano é a necessidade de submeter o objetivo militar ao objetivo político.
Diz o Marechal inglês Michael Carver, em seu livro crítico sobre os generais das guerras deste século, The War Lords, que a dimensão da guerra se alterou profundamente a partir do conflito de 1914-1918. O grande passo do desenvolvimento tecnológico manifestou-se amplamente nesse conflito, abrangendo toda a vida e atividades do Estado-Nação. Deixou a guerra, a partir daí, definitivamente, de ser um fenômeno militar para transformar-se num problema político dos mais graves.
O Marechal Carver analisa, no livro citado, a incidência simultânea, por ocasião da Grande Guerra, de dois tipos de problemas: o despreparo dos chefes militares incapazes de se adaptarem às novas condições do conflito, muito mais amplo em sua abrangência, atropelados que foram pelo aparecimento de novas técnicas e novas armas que se impunham no campo de batalha, ao lado das antigas, antes mesmo que eles pudessem se familiarizar com suas peculiaridades de emprego; ao mesmo tempo, viam-se em dificuldades em aceitar a separação que, agora, se impunha nítida, entre a direção política da guerra e o comando militar.
Antes, na última experiência de guerra maior, em 1870, os prussianos e franceses foram comandados por seus governantes, Guilherme I e Napoleão III, respectivamente. Já na Grande Guerra, após um começo desastroso ao lado dos aliados ocidentais, resultante de discrepâncias sobre o limite de responsabilidades sobre a direção política da guerra, o Presidente Clemenceau e o Primeiro-Ministro Loyd George assumiram plenamente esta direção, não sem que os comandantes-em-chefe, respectivamente Generais Joffre e John French, demonstrassem suas reações. Esses desentendimentos que marcaram o primeiro ano da I Grande Guerra ficaram na crônica com as seguintes frases de controvérsia: do Presidente Clemenceau -"a guerra é coisa muito séria para ser dirigida pelo militares"; do General Joffre -"a política de guerra é coisa muito séria para ser dirigida pelos políticos".
Não há dúvida que foi o aparecimento, no cenário militar, dos aviões de combate, veículos motorizados, rádio, telefone, submarinos, novos explosivos, guerra química e a exigência de enorme suporte de mobilização humana e industrial que provocou um novo desmoronamento do fenômeno bélico; isto se deu nitidamente no conflito de 1914-1918; em particular, as inovações técnicas no setor de comunicações - telefone, telégrafo e rádio-revolucionaram os conceitos então existentes, relativos à capacidade de comando no espaço e no tempo. Deixava a guerra, efetivamente, de ser um problema predominantemente militar.
O período de entre guerras, 1919-1939, assistiu aos progressos extraordinários da tecnologia das novas armas; algumas, apenas ensaiadas na Grande Guerra, assim também como os avanços na área das comunicações elétricas, eletrônicas e do radar.
Ao eclodir a II Guerra Mundial, do lado ocidental não havia mais dúvida de que o poder político deveria exercer a plenitude de suas responsabilidades, fixando os objetivos da guerra. Aos comandos militares caberia conduzir a Estratégia militar, em terra, mar e ar. Vemos a direção política da guerra exercida por estadistas, Churchill, Roosevelt e Stalin. Hitler pretendeu reunir em suas mãos o comando político e militar, gerando constantes conflitos internos que a História registra e a derrota embalsama.
Mas, foi também na II Guerra Mundial que se firmou o princípio de comando único do nível estratégico de forças combinadas (Exército, Marinha e Aeronáutica). Por ocasião da Grande Guerra, somente no final, em 1918, os aliados ocidentais chegaram a um acordo para constituir o Comando Supremo das Forças Intera Aliadas; a escolha recaiu sobre o General francês Ferdinand Foch. Esta necessidade-o Comando Único das Forças Armadas - sentida desde os primeiros dias da campanha, teve que vencer inúmeros preconceitos para ser implantada.
Já ao começarem as operações principais da II Guerra Mundial o princípio do Comando Único de Forças Internacionais estava consolidado. O General Dwight Eisenhower o exerceu com grande proficiência e habilidade. Consolidava-se ao mesmo tempo a aceitação de dois princípios: do Supremo Comando Único inter-aliado e dos Comandos Estratégicos Combinados (Exército, Marinha e Aeronáutica), integrados sob mesma direção militar, nos vários teatros de operação e áreas de defesa.
ESTRATÉGIA MILITAR
"A Estratégia militar é a arte do emprego da batalha para alcançar os objetivos da guerra." (Clausewitz, Vom Kriege.)
"A Estratégia militar é a arte de distinguir e aplicar os meios militares para atingir o objetivo da guerra." (Liddell Hart, Strategy.)
Fundamentos
Vimos, anteriormente, que a origem da Estratégia foi militar, as artes dos generais como a chamavam os gregos.
A expansão do cenário bélico, em virtude dos avanços da tecnologia, e o progressivo alcance de novas armas resultaram na ge¬neralização semântica da palavra Estratégia, levada para o âmbito da Política para significar seleção e emprego de meios em busca de objetivos. Liddell Hart, um dos acatados pensadores militares, distingue hoje a grande Estratégia e a Estratégia militar ou Estratégia pura. A primeira é a Estratégia geral, política ou nacional; e a segunda, a milenar arte dos generais.
É importante compatibilizar o objetivo militar ao objetivo político ou, se quisermos, ao objetivo da guerra. Embora diferentes, eles não podem ser separados, porque as Nações não se empenham em guerra por amor à guerra e sim para a consecução de uma po¬Iftica. O objetivo militar é apenas o meio de atingir um fim político.
A compreensão dessa dependência do objetivo militar ao objetivo político não foi alcançada facilmente. Durante todo o século XIX e até o meio da Grande Guerra (1914-1918) o cânone básico da doutrina militar foi que "a destruição das forças principais do inimigo no campo de batalha" constituía o único e verdadeiro objetivo da guerra. Isso foi aceito em todo o Ocidente e impresso em todos os manuais militares. Segundo Liddell Hart, a influência dos livros de Clausewitz muito contribuiu para fortalecer esse conceito. Mas os discípulos de Clausewitz levaram a sua teoria a extremos não desejados pelo Mestre. Enquanto se ressaltam os aspectos acima citados, esquece-se da contribuição c1ausewitziana ao dar ênfase aos fatores psicológicos na guerra. Clausewitz foi dos primeiros a rebelar-se contra a "escola geométrica da Estratégia", mostrando que o espírito humano é infinitamente mais importante que as linhas e ângulos operacionais. Destacou e discutiu os perigos do desânimo e da fadiga, o valor da ousadia e da vontade.
No seu alentado estudo Von Kriege, obra-prima pesquisada incessantemente no Ocidente e na União Soviética, Clausewitz distingue cinco elementos de natureza diferente na Estratégia: elementos morais, físicos, matemáticos, geográficos e estatísticos. E fácil se compreender que estes elementos variam em função do caráter nacional, de sua capacidade tecnológica, industrial e em recursos naturais, da forma, extensão e posição geográfica de seu ter¬ritório, do efetivo, organização, capacidade de mobilização e logística de suas Forças Armadas, e, finalmente, das qualidades de seus chefes e combatentes.
Os cinco elementos da Estratégia citados pelo pensador militar alemão são assim interpretados:
•             o elemento moral manifesta-se na vontade dos chefes, qualidades das tropas e no apoio nacional à causa e objetivo da guerra;
•             o elemento físico relaciona-se com a quantidade, composição, equipamento e importância relativa das forças;
•             o elemento matemático diz respeito à forma geométrica das operações, função da forma geográfica e posição do objetivo ou objetivos que resulta em certa importância no tocante à facilidade ou dificuldade em concentrar ou dispersar meios;
•             o elemento geográfico é relativo ao teatro de operações terrestre ou marítimo, terreno, sua extensão, forma, natureza, pontos dominantes, regiões-chave;
•             o elemento estatístico refere-se à capacidade de mobiliza¬
ção de efetivos, mobilização industrial, provimento logístico das operações.
Insiste Liddell Hart que a boa Estratégia militar deve sempre ser capaz de adaptar os fins aos meios. Realmente, esta compatibilidade é essencial para que o planejador possa ter uma expectativa de êxito. Fatores imponderáveis influem na Estratégia; alguns de dificílima avaliação, como a inteligência, a vontade dos chefes e combatentes, a ocorrência de intempéries imprevisíveis.
Buscando melhor conceituar a Estratégia militar, observa o General Beaufre que:
"A Estratégia não é a Técnica, nem a Tática, menos ainda a Logística e nem mesmo a Política, mas o nível intermediário entre a grande Política e a Tática; a engrenagem que permite ordenar o emprego da força, a fim de atingir, da melhor forma, os fins fixados pela grande Política."
Em seguida, vamos apreciar os chamados princípios de guerra ou princípios estratégicos, herdados de experiências milenares, revistos e reformulados depois de cada grande conflito bélico, e cuja permanência e validez resistem até os nossos dias.
Princípios de Guerra ou Princípios Estratégicos
A Estratégia moderna é uma aplicação de ciência e arte. Do ponto de vista científico a história das guerras é marcada pela evolução da tecnologia, resultando na mudança constante dos engenhos e, em conseqüência, na mudança radical das condições de batalha. A arte da guerra envolve uma análise critica e histórica do ambiente bélico. O militar profissional extrai desta análise os princípios fundamentais, suas aplicações e combinações através do tempo. Os principias de guerra ou principias estratégicos, extraídos desta análise histórica, exprimem os ensinamentos oriundos tanto da arte quanto da ciência da guerra. Não se trata de princípios imutáveis nem casuísticos, nem eles por si só asseguram receitas infalíveis para a vitória.
Como arte, o conhecimento da Estratégia militar deve ser robustecido pelo estudo da História. Observou o General Slim que "por muito que se alterem as condições das guerras, não somente os militares, mas também os dirigentes políticos e cidadãos comuns muito podem encontrar, no estudo dos conflitos passados, com possibilidade de aplicação nos conflitos futuros; para a busca dos ensinamentos de possível aplicação no futuro, algumas guerras do passado fornecem melhor antevisão do que outras".
Há quatro séculos Maquiavel aconselhava: "No que tange ao exercício da mente, deve o Príncipe ler a História e considerar sobre a ação dos grandes homens, ver como se conduziram nas guerras, examinando as causas de suas vitórias e derrotas, para poder fugir a estas e imitar aquelas."
Também Napoleão aconselhava a leitura freqüente das campanhas de Alexandre, Aníbal, Gustavo Adolfo, Turenne e Frederico, o Grande. Segundo Bonaparte, era a única maneira de um chefe militar assenhorear-se da arte da guerra.
O Almirante Mahan, considerado o precursor da teoria do poder marítimo, considerava que "a análise histórica da Estratégia e da Tática naval era o exercício intelectual para conciliar meios e fins, sem o que a Estratégia é uma aventura".
Na União Soviética há uma forte corrente de pensadores militares que leva a importância da História além de seus justos limites: defende o ponto de vista de que a análise histórica conduz às leis que comandam a evolução dos conflitos internacionais ou entre classes sociais.
O valor desses princípios reside na sua importância como pa¬drões de referência para a análise estratégica ou para as necessidades táticas. Para o estrategista, os princípios de guerra proporcionam um guia para as interrogações do planejamento militar, um conjunto de questões que devem ser consideradas pelos planejadores e pelos comandantes. Para os planejadores e comandantes táticos estes mesmos princípios oferecem modelos para orientar a ação de combate.
Os princípios de guerra ou estratégicos não devem, jamais, ser considerados um receituário infalível; mas, se bem interpretados e corretamente aplicados, serão um estímulo para o espírito dos chefes e lhes oferecem um paradigma para a ação.
Todas as Forças Armadas do mundo adotam Princípios de Guerra ou Princípios Estratégicos, aceitando-os como a estratificação de valores que se preservaram através de uma experiência milenar. As Forças Armadas das grandes potências, detentoras de uma experiência histórica mais rica, no tempo e no espaço, incluem alguns valores peculiares entre os seus princípios. Nas nações mais jovens, menos experientes, as Forças Armadas adotam os princípios oriundos da doutrina de seu principal aliado. Este é o caso das nossas Forças Armadas vinculadas aos Estados Unidos pelo Tratado Interamericano de Defesa e por acordos bilaterais.
Os princípios de guerra vigorantes hoje nos Estados Unidos e, com modificações mínimas, em todos os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) são:
•         objetivo;
 •         ofensiva;
•           massa;
•           economia de forças;
•          manobra;
•          unidade de comando;
•          segurança;
•          surpresa;
•           simplicidade.
Na União Soviética, em função da experiência bélica, do caráter nacional, da índole do povo russo e da imensa extensão geográfica, os princípios conhecidos são os seguintes:
•            ofensiva;
•             manobra e iniciativa;
•             concentração e economia de forças;
•             avanço e consolidação;
•             armas e ações combinadas;
•             aniquilamento;
•             ação de comando;
•             qualidade e quantidade das forças;
•             reservas adequadas;
•            moral;
•             estabilidade de retaguardas;
•             surpresa.
Considerando-se que a doutrina militar brasileira muito se aproxima da norte-americana, em virtude de fatores estratégicos vários, como nossa posição ocidentalista, nossos vínculos na aliança hemisférica, nossos acordos bilaterais, analisaremos e daremos uma interpretação sumária a cada um dos nove princípios de guerra, válidos, hoje, na doutrina dos Estados Unidos e das potências do Ocidente.
Objetivo - Toda operação militar deve ser diretamente orientada sobre um objetivo claro, decisivo e factível.
O sucesso da operação militar depende da capacidade Ofensiva de tomar, manter e explorar a iniciativa.
O poder de combate deve ser concentrado sobre o Massa objetivo decisivo, no momento oportuno.
Economia de Forças - Na distribuição do poder de combate, o mínimo essencial deve ser destinado aos objetivos secundários.
Manobra - O inimigo deve ser colocado em situação desfavorável através da aplicação flexível do poder de combate.
Unidade de comando - Para cada objeto deve haver unidade de esforço sob a responsabilidade de um único comando.
Segurança - Não permitir jamais que o inimigo nos surpreenda.
Surpresa - Ser capaz de atuar no ponto e momento em que o inimigo não espere e seja apanhado despreparado.
Simplicidade - Preparar planos claros e de simples execução e expedir ordens claras e concisas, a fim de assegurar o seu fácil entendimento por todos os executantes.
Os princípios acima conceituados têm aplicação tanto no campo estratégico como no tático, variando a dimensão da área de sua envolvência e a quantidade e complexidade dos meios empregados e devem estar presentes tanto na fase de planejamento como de execução das operações. Estes princípios são interdependentes e inter-relacionados; nenhum deles pode ser aplicado com a exclusão dos outros; nenhum deles por si só pode assegurar a vitória.
Como conceitos estratégicos aceitos e aplicados na atualidade destacamos os seguintes:
•             Estratégia de Ação Direta.
•             Estratégia de Ação Indireta.
•             Estratégia de Guerra Revolucionária.
•             Estratégia Nuclear.
•             Estratégia Espacial ou da "Guerra nas Estrelas".

Em seguida, vamos analisar cada um deles.
Estratégia de Ação Direta
O principal mérito de Carl von Clausewitz, nos 40 anos em que serviu a vários exércitos em várias guerras, de 1792 a 1831, foi o de participar e de meditar sobre as duas guerras que marcaram o turning point da Estratégia militar -as guerras da Revolução Francesa que finalizaram com o surgimento do Império napoleónico e as guerras do Império.
Iniciando sua carreira no Exército prussiano, no Regimento do Príncipe Ferdinando, aos 12 anos, no posto de suboficial (gefreiter corporal), não conheceu, até morrer como general em 1831, outra profissão senão a militar. Em 1801, admitido na Escola Geral de Guerra, foi aluno, comandado e devotado admirador de Gerhard Johann Scharnhorst, o famoso reformador, chefe do Estado Maior e organizador do Exército prussiano. Em 1811 Clausewitz pós seus serviços à disposição do Império russo em luta contra a desastrada invasão napoleónica. Antes havia servido ao Exército austr(aco.
Quando na Escola Geral de Guerra, sob a orientação do General Schnarnhorst, Clausewitz familiarizou-se com as principais obras sobre Estratégia militar de sua época; estudava-se, então, em particular, as teorias e as campanhas militares de Frederico II da Prússia e as chamadas Guerras da Revolução, as que precederam e que sucederam a queda da monarquia francesa até a campanha napoleónica na Itália.
Durante sua estada na Rússia, servindo no Exército do Tzar Alexandre, participou da luta contra a invasão das tropas napoleónicas (1811-1812). Regressando da Rússia, Clausewitz voltou ao Exército prussiano servindo sob as ordens do General Blucher, quando participou das campanhas de 1813, 1814 e 1815. Com o Exército de Blucher participou da Batalha de Waterloo, quando Napoleão foi derrotado pelos Exércitos ingleses e prussianos.
Após Waterloo começou para Clausewitz a época da meditação. Colocou sua espada na bainha. Em 1818 foi nomeado Diretor da Escola Geral de Guerra. No ano seguinte é promovido a general. Permaneceu na direção dessa Escola até sua morte, em 1831. Durante esse período de estudo e meditação, escreveu sua obra principal Vom Kriege (Da Guerra), que havia de imortalizá-lo como pensador militar.
Vom Kriege , lançado em 1832, um anos após sua morte, por sua viúva Marie von Clausewitz, é hoje um dos principais clássicos da Estratégia militar.
Contemporaneamente, o maior analista de Clausewitz foi o recém-falecido sociólogo francês Raymond Aron. Compara Aron a projeção de Vom Kriege com a Guerra do Peloponeso, escrita por Tucidides.
Dois temas principais tornaram Vom Kriege famoso. O tema político-filosófico que oferece uma nova interpretação do fenómeno da guerra. Há autores que tentam encontrar em Maquiavel a origem do pensamento político de Clausewitz sobre a guerra. Lembram esses autores que Maquiavel no O Príncipe, 300 anos antes, havia escrito invocando as mesmas críticas à guerra de então que compuseram o pensamento político-militar do autor de Da Guerra; Maquiavel criticava os exércitos mercenários, a mediocridade dos conhecimentos dos generais sobre o emprego de suas forças na batalha e a falta de espírito combatente das tropas. O tema militar, dando ênfase à tese da destruição da força armada inimiga, nós o desenvolvemos, quando tratamos da estratégia de ação direta.
Todas estas críticas, antecipadas peia genialidade do autor de O Príncipe, tornaram-se evidentes quando da criação de exércitos nacionais, resultado do conceito de "povo em armas", oriundo da Revolução Francesa, mostrando à sociedade a obsolescência dos exércitos mercenários, cujos alto custo e interesse pecuniário eram responsáveis pelo seu pequeno efetivo, seu mau emprego e o pouco entusiasmo dos combatentes. Mas, Maquiavel criticava os exércitos mercenários, porém não tinha a visão dos exércitos nacionais, do povo em armas, que foi a substância do pensamento de Clausewitz.
Em suma, o que Clausewitz captou com precisão na sua obra, foi que o conceito de povo em armas deu nova alma aos exércitos, tornou seu recrutamento fácil e, em conseqüência, seus efetivos maiores; os combatentes lutavam pela Pátria e não mais pelo rei e por um salário de mercenário. Esta nova força, o exército nacional, foi o instrumento que Napoleão Bonaparte soube manejar de maneira invendável, por um quarto de século. Alterou o conceito político, moral e operacional da guerra. Clausewitz recolheu estas lições e as traduziu na obra Vom Kriege.
A síntese do pensamento político de Clausewitz sobre a guerra pode ser resumido na sua célebre frase -"A guerra é a continuação da Política por outros meios".
Nesta frase o autor de Vom Kriege conceitua a permanência da Política e a transitoriedade da guerra, um meio utilizado pela Política, "um ato de violência para obrigar nosso oponente a submeter-se à nossa vontade".
Estudando Clausewitz, o líder revolucionário soviético Lenine resolveu se utilizar da frase do escritor prussiano e dar-lhe uma nova versão revolucionária, dizendo: "A Política é a continuação da guerra por outros meios." Nessa inversão, Lenine retira da doutrina marxista o conceito filosófico-sociológico da revolução permanente, da luta permanente e, por aproximação, da guerra permanente.
Mas, passemos aos ensinamentos de Clausewitz no campo da Estratégia militar. Procurou extrair das campanhas napoleónicas os princípios e a conduta estratégica.
Alguns trechos de Vom Kriege, uma obra profunda, rica em descobrimentos interpretativos, sintetizam os grandes traços da Estratégia militar do seu autor.
Diz Clausewitz:
"A destruição da força militar do inimigo, é o principal princípio de guerra e o caminho direto para atingir o objetivo da guerra.
Esta destruição da força militar do inimigo deve ser executada, essencialmente, por meio da batalha.
Somente grandes batalhas podem traduzir grandes resultados.
Os resultados serão mais efetivos quando a decisão puder ser obtida através de uma única e grande batalha.
“Somente uma grande batalha comandada diretamente pelo general-em-chefe inspirará maior confiança no chefe e nos seus subordinados.”
Extrai-se desses conceitos que o princípio fundamental da Estratégia militar de Clausewitz é a destruição da força militar do inimigo. A conduta estratégica ideal é a busca do centro de gravidade de suas forças e, numa só e única batalha decisiva, destruí-Ias.
Diz o autor que o princípio de destruição pode ser procurado por outros meios, havendo, em circunstâncias favoráveis, interesse em destruir forças secundárias do inimigo quando causem efeitos desproporcionalmente grandes para o êxito das operações, particularmente quando se trata de travar uma batalha pela conquista de objetivos geográficos em posições-chave.
Destaca o autor prussiano a importância da manobra, da capacidade de concentração rápida, das fintas de diversão sobre o inimigo para obter a surpresa e aplicar, com a maioria das forças, o golpe decisivo sobre o centro da gravidade do dispositivo inimigo. Em sua obra diz o escritor militar prussiano:
"A destruição das forças militares do inimigo é, na realidade, o objetivo de todos os combates; mas outros objetivos devem ser considerados, e estes objetivos podem, algumas vezes, ser predominantes; devemos, deveras, levar em conta uma distinção entre aqueles objetivos em que a destruição das forças militares do inimigo é principal, daqueles em que esta é uma aspiração futura. A destruição da força inimiga, a conquista de uma posição ou a conquista de alguns objetivos podem ser o motivo principal para a batalha e, em alguns casos, pode-se considerar apenas a conquista de um desses objetivos ou de vários juntos a principal razão para a batalha."
Na conceituação acima, Clausewitz procura não perder de vista que, mesmo havendo necessidade de travar batalhas para a conquista de objetivos secundários, a mente do comandante-em-chefe não deve se afastar da meta de atacar o objetivo principal, o centro de gravidade do dispositivo inimigo, visando à destruição de suas forças.
Antes da sua obra clássica, Vom Kriege, Clausewitz, aos 24 anos de idade, escreveu um livro de reconhecido valor profissional, A Estratégia de 1804, testemunha de seu espírito maduro e com já sólidos conhecimentos da arte militar.  interessante observar-se que, nesta obra, antecipa a discussão que haveria de inspirar toda sua produção intelectual posterior - a da relação entre à Política e a guerra. Sem dúvida, dois estamentos do pensamento de Clausewitz trouxeram sua presença viva, estuante, ao pensamento político e estratégico da atualidade: sua concepção de batalha decisiva pela ação direta buscando a destruição das forças militares do inimigo e o seu conceito de que "a guerra é a Política conduzida por meios violentos".
Sua concepção de ação direta, hoje com novas roupagens, revive plena na Estratégia de guerra nuclear. Seu conceito colocando a Política e a guerra num mesmo contexto, com o domínio da primeira sobre a segunda, que apaixonou o pensamento de Lenine; que nele buscou uma justificativa para a sua idéia de revolução permanente, irradiou-se pelas academias e institutos de todo o mundo.
Na atualidade, face à extensão e às projeções dramáticas da guerra nuclear, tornou-se fato inquestionável que o domínio da guerra deverá caber ao poder político.
É  interessante observar-se que esta predominância do político sobre o militar, na concepção e em particular durante os conflitos armados, foi questão polémica por ocasião da Grande Guerra, caracterizada principalmente nos desentendimentos entre o Presidente Clemenceau e o General Joffre. Atribui-se a Clemenceau a expressão "A guerra tornou-se assunto muito grave para ser tratado somente pelos militares". O General Joffre teria respondido: "A guerra é assunto muito grave para ser dirigida por civis." Assistimos aos desdobramentos dessa polémica, no momento mesmo das decisões, durante os conflitos militares da Coréia, entre o Presidente Truman e o General MacArthur e durante a guerra do Vietnam entre o Presidente Nixon e o General Westmoreland.
Na era nuclear que estamos vivendo, com a dimensão total da guerra envolvendo a Nação ou as alianças como um todo, sacrificando igualmente frentes e retaguarda, não há mais dúvida de que a direção da guerra, as decisões mais altas, devem caber ao poder político.
Veremos, quando tratarmos da guerra nuclear, que o seu maior teórico, o General Beaufre, considera que "a Estratégia levou aos extremos a forma de ação direta de Clausewitz".
Tratando dos objetivos estratégicos da defensiva e da ofensiva, Clausewitz apresenta o esquema seguinte:
Ofensiva Defensiva
•             Destruição das forças inimigas.
•            Destruição das forças inimigas.
•             Conquista de uma posição.
•            Defesa de uma posição.
•             Conquista de alguns objetivos.
•        Defesa de alguns objetivos.

Reitera sua tese sobre a importância da destruição das forças inimigas, colocando-a como principal objetivo da Estratégia ofensiva ou defensiva. A fixação do espírito de Clausewitz no objetivo principal de destruir a força principal do inimigo pela batalha, deu-lhe o título de patrono da tese conhecida por Estratégia de ação direta, contra a qual se contrapõem os teóricos da tese da Estratégia de ação indireta.
Cabe, aqui, repetirmos o General Beaufre quando diz: "A dissuasão nuclear, paralisando o conflito bélico, deixa uma margem muito estreita para a ação estratégica: aquela que é aproveitada pela estratégia soviética sobre a comunidade mundial. A ação política e econômica, a atualização de movimentos revolucionários e mesmo conflitos locais procuram escapar à paralisia imposta pela dissuasão nuclear."
Mas, feitas estas considerações históricas sobre a evolução da guerra e da Estratégia nuclear vamos tentar desenhar o quadro atual, o panorama que a humanidade confronta nesta hora, na esfera de um conflito nuclear.
Existem no mundo duas superpotências-Estados Unidos e União Soviética-detentoras de um arsenal de bombas nucleares e de vetores de lançamento (aviões, mísseis e satélites) algumas vezes superior, quantitativamente, à necessidade de cada superpo• tência de destruir militarmente a outra.
Estratégia de Ação Indireta
Para o General Beaufre (lntroduction a la Stràtegic), a Estratégia de ação indireta representa hoje uma diversão bélica que substitui a guerra total, tornada impraticável desde o aparecimen¬to da arma nuclear. Diz o mesmo autor que "a Estratégia de ação indireta é o complemento e, de certa forma, o antídoto da Estratégia nuclear".
O Coronel Guy Doly (Strategic France Europe) procura fazer uma distinção entre a.Estratégia de ação indireta e a chamada Estratégia de aproximação indireta, tantas vezes referida por Liddell Hart. A primeira, de ação indireta, seria a antiqüíssima estratégia do escritor militar chinês Sun Tzu, de busca da vitória puramen¬te pela surpresa, pelas manobras divisionárias, visando a desagregação psicológica, evitando o choque, ou a batalha com as forças principais do inimigo. A segunda, de aproximação indireta, utiliza-se preponderantemente da manobra, da surpresa, da diversão, mas não exclui a idéia subjacente da busca da decisão pela batalha.
Esses pensamentos de clássicos da Estratégia militar nos levam a considerar que, em termos de objetivo militar, a principal diferença entre os conceitos de Estratégia de ação direta de Clausewitz e de ação ou de aproximação indireta consiste em que a pri¬meira busca a destruição e a segunda a submissão das forças ini¬migas. Na Estratégia de destruição predomina a batalha, na de submissão predomina a manobra.
Estendendo-nos um pouco mais sobre a concepção da Estra¬tégia de ação indireta, que teve como primeiro teórico o chinês Sun Tzu e como seguidores contemporâneos Mao Tsé Tung e Giap, veremos que esta também se difere da teoria de aproximação indireta de Liddell Hart, particularmente pelas razões seguintes:
•             Sun Tzu confia mais na desagregação moral do inimigo do que na sua desarticulação tática e estratégica por força de ações de surpresa, manobras diversionárias, envolvimento de flancos e retaguarda. Em conseqüência, a estratégia do escritor militar chinês não leva em conta o fator tempo; sua ma¬nobra é prolongada, à espera dos efeitos de desagregação psicológica e moral do adversário.
•             Liddell Hart não abandona completamente a idéia de Clausewitz de concluir a ação estratégica através de uma batalha. O que pretende, no fundo de sua concepção, é travar a batalha contra um inimigo enfraquecido.
Inicialmente, vamos apresentar as idéias do pai da Estratégia da ação indireta, o escritor militar chinês Sun Tzu, que viveu no século V antes de Cristo. Depois, voltaremos aos conceitos de Liddell Hart que absorveu a essência das idéias do estrategista chinês e adaptou-a ao pensamento militar moderno.
Os fundamentos da Estratégia de ação indireta são encontrados no tratamento A Arte da Guerra, de Sun Tzu, cuja primeira tradução conhecida no Ocidente data de 1772, feita pelo padre jesuíta francês Amiot, missionário em Pequim. A tradução da obra para o francês pelo Padre Amiot despertou grande interesse na Europa. Até o fim do século XVIII apareceram quatro traduções para o idioma russo e uma para. o alemão. Em 1910 surgiu a tradução para o inglês de Leonel Giles. Há informações de que Napoleão Bonaparte, na sua juventude de tenente ou capitão, tenha lido a obra de Sun Tzu.
O livro de Sun Tzu é uma obra de meditação e de conceitos muito do estilo chinês. Começa o autor fazendo considerações sobre a guerra como assunto de importância vital para o Estado. Como tal, a guerra deve ser objeto de profunda análise e planejamento pelos dirigentes do Estado.
Inaugurou, assim, Sun Tzu, há cerca de 2500 anos, a grande polêmica dos nossos dias - a guerra é da responsabilidade maior dos estadistas ou dos generais?
Nos seus escritos o autor chinês preocupa-se menos com técnicas e táticas operacionais para se concentrar num sistema normati¬vo estabelecendo regras gerais capazes de conduzir as guerras à vi¬tória final. Ele considera o bom estrategista aquele que é capaz de derrotar o exército inimigo sem atacá-lo, de ocupar cidades inimi¬gas sem destruir os seus bens, de ocupar seu território sem necessidade de choques sangrentos.
Sun Tzu defende a tese que a batalha deve ser vencida muito mais pela manobra do que pelo choque armado. Como vemos, es¬te conceito é antípoda do clássico princípio de Clausewitz, que tanta influência teve no pensamento estratégico militar do Ocidente nos últimos 200 anos.
O autor chinês afirma que a superioridade em efetivos somente não garante a vitória militar. Ressalta como fatores importantes: inteligência dos chefes, moral da tropa e as circunstâncias. Procura reaIçar que o general não deve confiar demasiado na superioridade física do poder militar. Sun Tzu não concebe a guerra em termos de carnificina e destruição; prefere a vitória preservando tudo intacto, o mais intacto possível, as forças inimigas e os bens do seu ter¬ritório. Este, diz, o verdadeiro objetivo da Estratégia.
Sun Tzu é o pioneiro da crença na importância da informação estratégica e no planejamento nela concebido. Afirma que o planejamento baseado no conhecimento profundo do inimigo contribui decisivamente para acelerar a decisão militar. Leva em alta consideração os efeitos da guerra sobre a economia da Nação inimiga e faz sábias considerações sobre os efeitos morais danosos a que é submetida a Nação levada a um conflito bélico prolongado. Essa deteriorização moral favorece aquele que tem condições de ressistir por mais tempo.
Referindo-se às qualidades de um bom general, o escritor chinês enumera: inteireza moral, controle emocional e competência profissional, além de capacidade de organização, agilidade manobreira, controle dos subordinados, conhecimento do terreno e aptidão para avaliar as circunstâncias provocadas pelos fenômenos na¬turais.
Para Sun Tzu o Exército é o instrumento destinado a desferir o coup de grâce ao inimigo previamente enfraquecido. Antes das hostilidades militares devem agir os agentes secretos destinados a aprofundar os divisionismos ou rivalidades que sempre semeiam as forças inimigas e a realizar vários tipos de atividades clandestinas. Entre as missões desses agentes infiltrados o general chinês arrola: boatos falsos, informações desorientadoras, campanha de desmoralização contra chefes e oficiais inimigos acusando-os de corrupção; enfim, todas as artimanhas destinadas a exacerbar a discórdia e a desconfiança nas fileiras inimigas e desmoralizar suas forças perante sua população.
A obra-prima da literatura militar, A Arte da Guerra, exerceu no curso de 25 séculos, profunda e enorme influência no pensamento militar da China e do Japão. Contemporaneamente, através do seu maior discípulo e divulgador, Mao Tsé Tung, as idéias de Sun Tzu vêm se tornando cada vez mais conhecidas no Ocidente. Como vimos, os russos, pela via de suas prov(ncias mongólicas e tártaras, vinham recebendo há vários séculos a influência do pen¬samento estratégico chinês; após a Revolução Bolchevista e a aproximação ideológica da União Soviética e da China, as idéias de Sun Tzu, misturadas com o tempero marxista-leninista de Mao Tsé Tung, passaram a ter grande influência no processo da revolução mundial comunista. Para fins de aplicação na subversão comunista, que deve preceder à conquista do poder, os soviéticos prepararam um manual de práticas revolucionárias que hoje domina a Estratégia de subversão, na África ou na América Central, conhecida como "a linha de lenan".
Após este resumido histórico sobre o estrategista maior da ação indireta vamos reproduzir aqui algumas de suas concepções mais conhecidas, mas nem sempre corretamente citadas.
•             "Somente quando todos os recursos de pressão moral e psicológica estiverem esgotados, e o inimigo ainda possa apresentar resistência militar, deve ser usado o recurso de buscar a decisão pelas armas. Neste caso deve ser procurada a decisão
•             no mais curto prazo;
•             com o menor custo de vidas e de material;
•             infligindo ao inimigo o menor número de perdas."
•             "Geralmente, na guerra, a melhor política é conquistar o país inimigo intacto; destruí-lo é pior. Capturar o Exército inimigo é melhor do que destruí-lo. Obter uma centena de vitórias através de uma centena de batalhas não representa a melhor estratégia; vencer o inimigo sem a necessidade de combater significa a melhor estratégia."
•             "A administração de grandes efetivos e materiais pode se tornar tão fácil como a administração de pequenos efetivos e materiais; é uma questão de organização."
•             "Geralmente, quem escolhe o campo da batalha leva vantagens; quem chega depois ao campo de batalha e entra em combate leva desvantagens. Por isto, os generais atilados conduzem o inimigo ao campo de batalha que escolheram e rejeitam os escolhidos pelo inimigo. Não será oferecendo algumas vantagens ao inimigo que o faremos atuar de acordo com a nossa vontade, mas sim fustigando-o incessantemente."
•             "Há estradas que não devem ser utilizadas, tropas que não devem ser atacadas, cidades que não devem ser assaltadas e regiões que não devem ser disputadas."
•             "Não há nada mais difícil do que a arte da manobra. O mais difícil na manobra é fazer da direção enganosa a mais direta e transformar esta desvantagem em vantagem. Assim, marche por uma direção indireta, iludindo-o com estratagemas em outras direções. É preciso saber fazer o jogo da aproximação direta e da indireta."
•             "Quando transpuser um rio deve imediatamente ocupar posições a distância do mesmo."
•             "O terreno deve ser classificado de acordo com a sua natureza e seu aproveitamento operacional como acessível, favorável a infiltrações, neutro, fechado, acidentado e distante."
•             "Quando a tropa debanda, insubordina-se, fracassa, entra em colapso, em desordem ou foge, a culpa é do general. Nenhum desses desastres podem ser atribuídos a causas naturais. Quando as tropas são valorosas e os oficiais fracos, o resultado é a insubordinação: quando os oficiais são valentes e as tropas fracas o resultado é o fracasso."
Basil Henry Liddell Hart serviu ao Exército britânico durante a I Grande Guerra e passou para reserva em 1927. Notabilizou-se como escritor militar no período de 1919 a 1939, chamado período de entre-guerras, analisando a Estratégia militar empregada pelos dois adversários em face do advento de novos instrumentos de guerra, como o carro de combate, o avião e o submarino. Foi correspondente militar dos jornais ingleses London Daily Telegraph e London Times tendo acompanhado os conflitos militares locais na Abissínia e a Guerra da Espanha. Difundiu nas Forças Armadas inglesas seus estudos sobre a evolução da Tática e da Estratégia. Foi um entusiasta da mecanização e do poder aéreo. Entre as inúmeras obras que publicou destacam-se O Futuro da Infantaria (1933), A Defesa Dinâmica (1940), A Estratégia de Aproximação Indireta (1941), A Defesa do Ocidente (1950) e O Exército Soviético (1955). De Liddell Hart disse o General Patton: "Seus livros alimentaram-me durante 20 anos."
Há sempre um sentido psicológico mais profundo nas razões que levam um autor a orientar-se para determinado tema. No caso de Clausewitz foi a observação das vitórias militares sucessivas de Napoleão durante um quarto de século. No caso de Liddell Hart foi o seu inconformismo diante da carnificina militarmente inútil de quatro anos em que se transformou a Grande Guerra, na frente ocidental.
Analisando os recursos táticos, os instrumentos de guerra colo¬cados pela tecnologia nas mãos dos chefes militares do conflito bélico de 1914-1918, Liddell Hart chegou à conclusão de que eles não souberam tirar todo o proveito das novas armas -o carro blindado, o avião, o submarino - que, embora em fase experimental, poderiam ter influído mais particularmente no campo de batalha terrestre, para a imposição de uma tática de movimento, de manobra, que rompesse o impasse estratégico.
Insiste Liddell Hart, nas suas análises, particularmente na inépcia de uma guerra estática e de uma frente estabilizada durante quatro anos, resultando no massacre de milhões de homens sem nenhuma perspectiva estratégica de vitória a não ser pelo esgotamento.
Liddell Hart, acompanhando a evolução da técnica que se operou no período de entre - guerras, de 1919 a 1939, quando os novos engenhos - os carros blindados, o transporte motorizado, os aviões, os submarinos, as telecomunicações e os sistemas de direção de tiro terrestres, navais e aéreos - alcançaram enorme progresso técnico, passou a admitir uma profunda alteração nas concepções estratégicas filiadas à escola clausewitziana.
Os planos de operações estratégicas, concebidos por Liddell Hart, justificam sua concepção estratégica de aproximação indireta, que não deve ser confundida com a Estratégia de ação indireta, de Sun Tzu e seus seguidores fundada, essencialmente, na técnica de agressão psicológica.
Para o pensador e estrategista inglês "o objetivo da Estratégia é conduzir a batalha nas condições mais vantajosas e estas condições mais vantajosas serão as que diminuem a necessidade de combater". "A Estratégia perfeita será aquela que obtenha a decisão pelo desequilíbrio das forças inimigas, que alcance sua rendição sem combate." Quando se reporta à Estratégia perfeita sabemos que Liddell Hart refere-se ao ideal; o real que ele visualiza é a decisão militar alcançada com um mínimo de combate e um máximo de manobra. Considera que os recursos técnicos modernos permitem imprimir às operações um sentido de movimento que fará destacar no chefe militar a sua capacidade manobreira. Os modelos de chefe militar da II Guerra Mundial, por sua capacidade manobreira, são Guderian e Patton. Após a II Guerra Mundial, Liddell Hart reviu sua concepção e se firmou com enorme convicção na defesa dos princípios da Estratégia de aproximação indireta. O aparecimento da arma nuclear dotada de um poder destrutivo inimaginável tornou inconcebível a Estratégia de ação direta no quadro de uma guerra total. Será a hecatombe final.
A Estratégia de aproximação indireta, no quadro da atualidade bélica, permite a alimentação dos conflitos armados pelo enfra¬quecimento progressivo do inimigo, por meio de ações de surpre¬sa, manobras diversionárias, bloqueios marítimos, movimentos envolventes pelos flancos e pela retaguarda, num contexto de perma¬nente movimento. O objetivo principal, segundo Liddell Hart, é o desequilíbrio do sistema de forças, em conseqüência, o enfraquecimento do moral do inimigo. Por outro lado, esta concepção estratégica torna a guerra mais econômica em termos de recursos materiais e humanos.
A diferença fundamental entre a Estratégia de aproximação in¬direta de Liddell Hart e a de ação indireta de Sun Tzu é, como já referimos, que o autor inglês guarda na sua concepção a idéia da batalha, do golpe fundo sobre o inimigo já enfraquecido pela manobra. Passemos a palavra ao próprio escritor militar inglês para Que ele interprete o seu pensamento:
"A aproximação indireta deve permitir, seja conquistar o objetivo logo em seguida ao desequilíbrio do sistema de forças do inimigo, seja por ter ficado ele enfraquecido por esse desequilíbrio, seja por se terem criado as condições para se lhe aplicar o golpe decisivo."
Considera Liddell Hart que o desequilíbrio do sistema de forças do inimigo produz tamanho impacto moral sobre seus coman¬dos e suas forças que sua capacidade combativa se torna ineficaz.
Ainda no quadro da ação indireta está a Guerra Revolucionária, que trataremos em capítulo especial.
Estratégia de Guerra Revolucionária
A Estratégia da guerra revolucionária comunista, dirigida hoje pela Central de Moscou e suas filiais, constitui um corpo de doutrina que encontra seus fundamentos em dois veios principais: os conceitos da revolução permanente deixados por Lenine, que os extraiu de sua experiência dos movimentos urbanos de massa para a derrubada do poder e, em segundo lugar, as táticas de subversão hauridas nas teorias e vivências da revolução no campo, trazidas por Mao Tsé Tung.
Durante os anos em que o comunismo internacional se jactava de sua unidade monolítica de comando, nos anos 50, Stalin e Mao Tsé Tung integraram as teorias e experiências revolucionárias bolchevista e chinesa; Lenine, o teórico da revolução das massas, já havia falecido e Stalin era seu herdeiro.
O filósofo, sociólogo e pensador francês Raymond Aron, na sua obra magnífica Penser de la Guerre, revela-nos com minudência que Lenine leu e anotou toda a obra clássica de Clausewitz. Anotou esta obra com suas observações próprias, deixando consignado o seu pensamento na aprovação mas principalmente na reação aos conceitos do escritor militar prussiano. Estas observações vieram a constituir o fundamento da estratégia comunista da revo¬lução mundial da classe operária, que tem por base a tática de luta de classes.
Vale a pena salientarmos algumas observações e decorrências do pensamento de Lenine hauridas na leitura de Clausewitz. No tocante ao conceito c1ausewitziano de que "a guerra é a simples continuação da Política por outros meios", Lenine, incorporando o princípio de que guerra e Política estão inseridas num mesmo processo, imprime a este conceito a sua dinâmica própria, revolucionária, proclamando a sua versão que vale como uma verdadeira paráfrase da sentença do escritor militar prussiano sentencia o líder bolchevista que "a Política é a simples continuação da guerra por outros meios". Daí se extrai o princípio de guerra permanente que Lenine transformou na sua teoria de revolução permanente.
Lenine associou à sua paráfrase as idéias de processo histórico dialético de Hegel, outro alemão, imprimindo às sístoles e diástoles sociais, às tensões e distensões sucessivas da sociedade, as razões geradoras do progresso.
As idéias fundamentais da Estratégia da guerra revolucionária, segundo Lenine, são: a conquista do poder por meio da rebelião das massas, implantação da república do proletariado submetida à ideologia marxista-leninista e a internacionalização do movimento proletário marxista-leninista. Para alcançar estes objetivos estratégicos a tática principal aconselhada pelo líder bolchevista é a da luta de classes. Sobre esta tática vamos passar a palavra ao próprio Lenine:
" a instauração do regime socialista que virá suprimir toda a exploração do homem pelo homem e de uma Nação por outras Nações, o que suprimirá, infalivelmente, toda a possibilidade de guerra geral. Mas, para combater por um regime socialista teremos que nos colocar necessariamente a favor da luta de classes no interior de cada pais, que poderá gerar uma guerra entre as diferentes nações envolvidas nesta luta de classes. Assim, não poderemos evitar a possibilidade de guerras revolucionárias, quer dizer, de guerras oriundas da luta de classes, dirigidas pelas classes revolucionárias e tendo um objetivo revolucionário direto e imediato."
Lenine, como tática de luta de classes, aconselha aos comunistas a se infiltrarem na sociedade burguesa para a conquista do poder, usando os seguintes processos: dividirem-se em pequenos grupos, praticarem a eliminação daqueles que colaborarem com organismos policiais, assaltarem bancos ou estabelecimentos públicos a fim de confiscar dinheiro para o partido do proletariado.
No fim dos anos 40 e no decorrer dos anos 50, fase caracterizada pela amizade fraterna entre os regimes comunistas de Moscou e de Pequim, a experiência da guerra revolucionária chinesa, praticada e vitoriosa sob a liderança de Mao Tsé Tung, passou a influir na estratégia e tática subversivas exportadas pela central soviética. A experiência chinesa era rural, da revolução no campo, enquanto Lenine assentara toda a sua teoria revolucionária sobre os movimentos operários em grandes conglomerados urbanos. Como assinalamos no inicio deste capítulo, a estratégia e tática do comunismo-internacional hoje disseminada pelo mundo é uma mistura das teorias leninistas e maoístas. O adepto da revolução comunista, na Africa, Oriente, América Latina, na sua maioria, estão divididos em grupos chamados leninistas, maoístas, ienanistas (linha de tenanl. guevaristas etc., conforme se filiem à doutrina de Lenine ou Mao Tsé Tung.
Inúmeros autores vêm estudando a perfilhação da doutrina de guerra revolucionária de Mao Tsé Tung às teorias expostas pelo antiqüíssimo pensador militar chinês Sun Tzu.
Vimos que Sun Tzu, o verdadeiro pai da doutrina de ação indireta, criou sua concepção bélica inspirado nas características do espírito chinês, inclinado à não-violência e inspirado na paciência. Estas características serão sempre encontradas nos pensadores chi¬neses em dois milênios de civilização.
Mao Tsé-Tung, 2400 anos depois de Sun Tzu, apropriou-se da mecânica da Estratégia do seu Mestre e nela incluiu o ingrediente marxista-leninista - o fanatismo ideológico e a revolução de massa.
Mao Tsé Tung, nascido na província de Hunan em 1893, era filho de um fazendeiro relativamente próspero. Fez o curso secundário numa escola normal (de formação de professores). Em 1917 empregou-se como auxiliar de bibliotecário na Universidade de Pequim. Nessa ocasião, aproximou-se de um grupo de jovens marxistas liderados por Li Ta-chao e Chen Tu-hsiu. Nessa época, Mao descobriu Lenine; acompanhou apaixonadamente a polêmica entre Lenine e Trosky e começou a estudar Marx e Engels. Por volta de 1920  Mao estava convencido de que tinha encontrado a sua missão: criar uma Nova China moldada nas teorias filosóficas e socioeconômicas de Marx e Lenine. Em 1921 filiou-se ao recém-formado Partido Comunista Chinês. A partir dai começa sua saga de revolucionário. Mao decidiu lutar para mudar o destino do povo chinês-naquela época 400 milhões de camponeses lutando dia a dia para obter um mínimo para sua subsistência. Uma população desprotegida, explorada por todos, pelos proprietários de terra, pelos usurários, pelos bandidos, pelas autoridades locais corruptas, e submetidas às inclemências da natureza, pragas agrícolas, secas, inundações e epidemias. Somente os mais fortes sobreviviam os demais eram consumidos aos poucos pela subalimentação, as enfermidades e o inverno rigoroso do Norte e da Manchúria. Por outro lado, havia o panorama de uma China servindo passivamente de laboratório de experiencias às Nações colonialistas -França, Inglaterra, Alemanha e Rússia. Esta China que despertou o patriotismo do jo¬vem Mao, ele mesmo chamou de "semi-colonial e feudal".
Logo após Chiang Kai-Chek assumir o Comando do Exército Revolucionário Nacionalista, em 1926, Mao regressou à sua província natal, Hunan, visando a levantar os camponeses a favor da revolução marxista. A bandeira alçada por Mao foi "expropriação das grandes propriedades e redistribuição das terras"; contra o radicalismo desta tese posicionou-se Chiang Kai-Chek, preocupado em não perder o apoio dos proprietários de terra. Ai começou a funda rivalidade entre os dois maiores lideres chineses da época. Este antagonismo foi responsável pelo expurgo dos elementos comunistas das fileiras nacionalistas determinada por Chiang Kai¬Chek em Shangai, em 1927. Mao Tsé Tung e seu aliado Chu Teh começaram a estruturar um exército popular nas regiões monta¬nhosas de Hunan. No verão de 1930  Mao recebeu uma diretriz do Comitê Central do Partido determinando uma ofensiva geral contra as cidades ocupadas pelos nacionalistas. Após inúmeros combates suas forças foram derrotadas em Changsha. Mao e Chu Teh, então, tomaram a mais importante decisão da história do PC chinês - abandonar a orientação soviética e seguir somente as diretrizes de Mao. O motivo principal dessa decisão histórica foi o reconhecimento de que o processo revolucionário chinês teria que ser diferente do soviético: a revolução russa foi baseada na força de um proletariado industrial; a chinesa teria que ser a base de um proletariado rural. Esta decisão provocou defecções dos tradicionalistas e resultou na reformulação do processo revolucionário chinês, agora sob a orientação exclusiva de Mao e Chu Teh.
Ainda em 1930 Chiang Kai-Chek inicia a grande ofensiva contra as forças militares comunistas. Após várias derrotas, os nacionalistas conseguiram se recuperar e, em 1933, realizaram o cerco das forças de Mao, na região de Hunan. Sentindo-se perdido, Mao resolve transferir sua base ao sul do território para a Província de Shensi, no extremo norte, para o que rompe o cerco e inicia a "grande marcha" de sua coluna, percorrendo cerca de 10.000 km.
A "grande marcha" transformou-se em uma das mais notáveis migrações da História, cuja finalidade foi preservar o poder militar do PC chinês. Inumeráveis rios e montanhas foram ocupados por essa coluna de milhares de homens enfrentando a inclemência de climas tropicais e subárticos, perseguidos por terra e pelo ar pelas incursões das forças nacionalistas. Vencidas todas estas dificulda¬des a coluna militar de Mao alcançou, afinal, a região protegida de Pao An. Mais tarde Mao transferiu sua base para Yenan, onde teve tempo e tranqüilidade para traduzir sua experiência escrevendo a teoria e a doutrina da Guerra Revolucionária.
Entre os legados de Estratégia e Tática revolucionárias deixa¬dos por Mao Tsé Tung destacamos: A Guerra de Guerrilhas, A Guerra Prolongada e Problemas Estratégicos da Guerra Revolucionária na China.
Vários trechos da estratégia e tática de Mao Tsé Tung tornaram-se conhecidos e foram objeto de muitos comentários e estudos nos meios militares ocidentais. Entre estes destacamos:
"Quando o inimigo avançar, recue; quando o inimigo fizer alto, inquiete-o; quando o inimigo evitar o combate, ataque-o; quando o inimigo retirar-se, persiga-o."
"Em princípio, todo deslocamento de forças deve ser feito sigi¬losa e rapidamente. Artifícios como fazer provocações a Este enquanto estiver atacando a Oeste, aparecer simultaneamente ao Norte e ao Sul, atacar e desaparecer em ações noturnas são táticas que devem ser usualmente empregadas para iludir e con¬fundir o inimigo. Alta flexibilidade para dispersar, concentrar-se e surpreender é uma manifestação concreta de iniciativa na guerra de guerrilhas onde a falta de flexibilidade e a lentidão conduzem à passividade e à derrota. Os comandantes provarão sua capacidade menos pela compreensão de como é importante o fator flexibilidade do que pela sua aptidão de realizar a rápida dispersão, concentração e mudança do dispositivo de suas forças de acordo com as exigências das circunstâncias. A capacidade dos comandantes em prever as mudanças de atitude tática em tempo oportuno não é fácil de adquirir, exceto para aqueles que são capazes de absorver com a mente aberta as experiências alheias e próprias. A flexibilidade das guerrilhas não deve ser considerada receita antecipada mas fruto das circunstâncias reais."
"O ataque pode ser mudado em defesa, e a defesa, em ataque; o avanço pode ser mudado em retirada, e a retirada, em avanço; forças de contenção podem ser mudadas em forças de assalto, e forças de assalto, em forças de contenção."
"A astúcia e a surpresa são os dois princípios-chave da guerrilha. Deve-se adotar toda sorte e medidas de astúcia para levar o inimigo a juízos falsos e ações erradas, neutralizando sua superioridade e negando-lhe a tomada de iniciativa. O inimigo iludido acredita em imagens irreais. Ao mesmo tempo, devemos ocultar nossa real imagem do inimigo. Os olhos e ouvidos dos comandantes inimigos devem ser fechados. Somente as armas da astúcia não são suficientes; os comandantes inimigos devem ser levados a um estado de confusão se possível próximo ao desespero. O moral do inimigo é objetivo da mais alta prioridade; seu enfraquecimento é essencial antes dos combates. "
Os princípios da estratégia de Mao Tsé Tung, inspirados na doutrina de ação indireta de Sun Tzu e adaptados aos processos revolucionários de Lenine, passaram pelo crivo de sua longa experiência bélica - as lutas do Exército Vermelho Chinês contra as forças do Kuomitang (Chiang Kai-Chek) e a guerra contra os japoneses.
Novas experiências da aplicação dos princípios e processos de guerra revolucionária tiveram lugar durante a extenuante Guerra do Vietnam, onde os vietcongues, sob a direção de Ho Chi Minh e do General Giap, alcançaram, durante quase 20 anos, expressivas vitórias contra as forças francesas e depois as norte-americanas.
Em nosso continente, hoje, assistimos ao desenrolar da Estratégia de guerra revolucionária comunista, particularmente na América Central e Caribe, tendo Cuba como principal foco de irradiação e a Nicarágua como experiência em fase aguda da luta visando ao assentamento de um segundo governo obediente a Moscou.
Estratégia Nuclear
A humanidade vive, hoje, intensa e dramaticamente, a expectativa da guerra nuclear e da guerra espacial (ou guerra nos espaços, ou guerra nas estrelas).
O aparecimento da bomba atómica como engenho bélico revolucionou completamente o cenário da guerra.
As duas primeiras bombas atómicas lançadas pelos norte-americanos sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, no final da II Guerra Mundial, deram aos estrategistas a visão clara de que, dali para diante, a guerra adquiria uma extensão e um grau de violência nunca antes imaginados. Surgia uma nova arma de poder mortífero e destruidor jamais concebido pelo homem e contra a qual não se vislumbrava nenhum recurso de defesa. A ameaça de guerra atómica como que paralisou, por algum tempo, a mente dos estrategistas militares.
A fabricação da bomba atómica, baseada nos avanços no campo da fissão nuclear, exigindo alta tecnologia, foi inicialmente monopólio dos Estados Unidos (de 1945 a 1949). Em 1949 a União Soviética explode sua primeira bomba de fissão, passando a participar e a concorrer com os Estados Unidos desse monopólio. Aí começa a corrida nuclear entre as duas superpotências. Aumenta cada dia a capacidade de fabricação e poder explosivo dos engenhos. Os estrategistas tratam do assunto sob o título de escalada nuclear. Outros países com menor capacidade entram na escalada-Inglaterra, França e China. Ao aumento dos arsenais corresponde o aumento das explosões em campos de prova, em regiões afastadas, no Oceano Pac(fico e outros. A bomba de fissão é substituída por outra, de poder destruidor muito mais aterrorizante – a  bomba de fusão nuclear - também chamada de bomba de hidrogênio. Lança-a, experimentalmente, os Estados Unidos, em 1951, também logo seguido da União Soviética.
A escala é caracterizada pelo número de bombas e pelo aumento da potência destruidora das mesmas. As bombas de Hiroshima e Nagasaki forram de 20 quilotons de potência (equivalente à explosão de 20 toneladas de tri nitroglicerina). Hoje já existem nos arsenais dos "dois grandes" bombas de potência de 20.000  quilo tons, mil vezes mais mortíferas e destruidoras que aquelas
duas que foram lançadas em 1945 contra as duas cidades japonesas.
A tecnologia da bomba desenvolve-se, paralelamente, à tecnologia do vetor de lançamento. Também no campo dos mísseis  portadores de bomba desenvolveu-se a mais frenética escalada em busca da superioridade em alcance e precisão. As duas primeiras bombas foram lançadas por aviões convencionais, a hélice, bombardeiros do tipo 8-29. Pouco a pouco os mísseis foram substituindo os aviões no transporte de bombas. Vieram, no começo, os mísseis de alcance médio; depois, os chamados continentais e por fim os intercontinentais, ou balísticos, lançados de silos terrestres ou de submarinos.
Na medida em que progredia a estratégia de lançamento, alterava-se a estratégia de ataque e defesa nuclear. Na época dos mísseis de alcance continental, foram criadas, através de alianças internacionais, bases de lançamento circundando os objetivos visados. Com o aumento dos alcances de continentais para intercontinentais essas bases de lançamento próximo foram se tornando menos importantes. As duas superpotências, Estados Unidos e União Soviética, de seus próprios territórios, atualmente, podem atingir o território de seu adversário, com mísseis intercontinentais portadores de bombas carregando de 1 a 10 cabeças nucleares, orientada, cada uma, para objetivos estratégicos diferentes. Submarinos portando dispositivos de projeção têm, também, capacidade de lançamento de mísseis portadores de engenhos nucleares oferecendo à Estratégia de ataque maior fator de mobilidade e surpresa.
Dos mísseis aos satélites foi um passo. Era o domínio dos espaços siderais além da atmosfera. Nova corrida; chegada do homem à Lua (1969). Lançamento de satélites de reconhecimento, não pilotados. à proximidade de planetas do sistema solar. Lançamentos de satélites com várias finalidades de observação científica e de espionagem. E, por último, a chamada guerra espacial ou guerra nas estrelas, com o que os Estados Unidos pretendem criar um escudo defensivo contra os ataques nucleares.
Formaram-se os binômios míssil - bomba e satélite-bomba integrando, ajustando e aperfeiçoando cada vez mais a associação do vetor de lançamento ao engenho explosivo.
Este é o quadro paralisante da guerra nuclear. Paralisante por¬que as duas superpotências rivais acumularam enormes arsenais e dispõem de inúmeros meios de lançamento intercontinental; tudo aliado a um dispositivo de vigilância recíproca, detecção eletrônica da agressão e da resposta imediata. Criou-se, assim, uma "paralisis", resultado da certeza da destruição mútua.
Cabe, aqui, repetirmos o General Beaufre quando diz: "A dissuasão nuclear, paralisando o conflito bélico, deixa uma margem muito estreita para a ação estratégica - aquela que é aproveitada pela estratégia soviética sobre a comunidade mundial: a ação política e económica, a utilização de movimentos revolucionários e mesmo conflitos locais que procuram escapar à paralisia imposta pela dissuasão nuclear."
Mas, feitas estas considerações históricas sobre a evolução da guerra e da Estratégia nuclear, vamos tentar desenhar o quadro atual, o panorama que a humanidade confronta nesta hora na es¬fera de um conflito nuclear.
Existem no mundo duas superpotências - Estados Unidos e União Soviética  - detentoras de um arsenal de bombas nucleares e de vetores de lançamento (aviões, mísseis e satélites) algumas vezes superior, quantitativamente, à necessidade de cada superpotência de destruir militarmente a outra.
Com o propósito de evitar a disseminação pelo mundo das armas nucleares e de guardar para si o seu monopólio, os países do então - chamado "Clube Atómico" conseguiram, através da ONU, que fosse assinado, em 1968, o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, através do qual foi criada a Agência internacional de Energia Nuclear, com sede em Viena, Áustria.
A Agência procura controlar a expansão de armas através do "Tratado de Salvaguardas," por meio do qual os países signatários aceitam a fiscalização da mesma, até mesmo a inspeção in loco visando a evitar que aqueles que possuem reatores produtores de energia nuclear para fins pacíficos reorientem suas atividades adquirindo capacidade de fabricar armas nucleares.
Em setembro de 1984 os países signatários do Tratado de Não Proliferação reuniram-se em Genebra, a fim de fazerem um balanço dos esforços desenvolvidos pela Agência Internacional de Energia Nuclear, no sentido de impedir a disseminação de armas. A situação levantada nessa reunião de Genebra, onde estiveram presentes 85 países signatários do Tratado de Não Proliferação, foi melancólica. Os esforços realizados no sentido da contenção da expansão de armas ou da possibilidade de vir a fabricar armas têm sido fricativos. 'A maioria dos países do chamado 3º  Mundo acusa as super potências de uma atitude hipócrita; não aceitam, aqueles países, a incoerência entre a escalada nuclear das superpotências e seus argumentos pacifistas tentando proibir outros países de desenvolve¬rem uma tecnologia avançada.
O balanço da situação nuclear, realizado por ocasião da citada
Reunião de Genebra dá-nos o seguinte quadro: potências possuidoras da arma nuclear: Estados Unidos, União Soviética, Inglaterra, França, China e Índia; potências médias, em vias de fabricar a arma: Paquistão, Israel, África do Sul e, em segundo estágio de adiantamento, Argentina e Brasil; a Holanda domina completamente a tecnologia do reprocessamento do urânio e fabricação do plutónio, mas não se tem noticia que objetive a produção de armas; outros países como o Japão, Alemanha Ocidental e Líbia desenvolvem pesquisas adiantadas no campo da energia nuclear.
A matéria-prima necessária para a fabricação de uma bomba nuclear é: Urânio 235 (U-235) e plutónio 239 (PU-2391. O U-235 é obtido através do processo de enriquecimento do urânio natural. Apenas, cerca de 20 kg de U-235, com 93% de pureza, foram necessários para a fabricação da bomba lançada sobre Hiroshima, em 1945. O reprocessamento é a fórmula usada para extrair P(J-239 dos dejetos de combustíveis utilizados pelos reatores nucleares. Os reatores do tipo breeder, mais modernos, preferem utilizar o plutónio do urânio.
Esta certeza da destruição mútua, por meio de uma represália devastadora em proporções inimaginável sobre o próprio território da potência atacante, gerou o impasse nuclear que vem livrando a humanidade da mais desumana das guerras. Gerou o terror nuclear. Na impossibilidade de resolver seus antagonismos através da guerra nuclear, as superpotências, nestes últimos 40 anos, consomem sua vocação guerreira nas áreas de disputa estimulando as guerras convencionais e a guerra revolucionária.
Diz, o Coronel francês Guy Doly: "A Estratégia nuclear levou aos extremos a forma de ação direta de Clausewitz." Quanto à estratégia total da atualidade, quem melhor a concei¬tua é o próprio General francês André Beaufre:
"A estratégia total comporta uma combinação de dissuasão nuclear e de ação. A dissuasão é a mola, que não pode deixar de pressionar, a ação é a espada que pode alguma vez quebrar e parar.
Dissuasão e ação são dois termos complementares da Estratégia. o conceito de ação, aqui definido, comporta todas as formas de ação; desde as mais violentas até as mais insidiosas. Trata-se de um conceito total que corresponde à estratégia total."
Sobre a dissuasão estratégica, núcleo da concepção moderna de guerra total que alguns brasileiros vêm traduzindo pelo neologismo deterrência (do inglês deterrence) , diz o General Beaufre:
"A dissuasão nuclear visa a paralisar o conflito bélico pela imposição ao agressor da ameaça de uma represália que não lhe permita sobreviver à agressão."


É o risco da destruição recíproca cujo preço ninguém quer pagar.
Mas, se de um lado a Estratégia de dissuasão paralisou o desencadeamento do conflito nuclear, por outro estimulou a escalada nuclear, pois nenhum dos rivais pode permitir que o outro o supere em meios de destruição; e, ao mesmo tempo, incentivou as ações secundárias, as guerras convencionais, as guerras de guerrilhas, a guerra revolucionária.
A Estratégia nuclear é um jogo em que entram em consideração dois fatores essenciais: seleção dos alvos e seleção do binômio vetor de lançamento-bomba.
Na seleção dos alvos entram em apreciação qual o objetivo da destruição desejada-destruição do sistema militar inimigo laivos militares ou destruição da estrutura de funcionamento do Governo e do Estado inimigos (alvos não-militares).
No primeiro caso os alvos mais importantes são: bases de mísseis, bases aéreas, bases navais, centros de comando militares, de¬pósitos de bombas, instalações de forças convencionais.
Entre os alvos não-militares destacam-se: sedes de governo, centros de comunicações, sistemas de transportes, sistemas de produção e distribuição de energia, centros industriais.

No que se refere à redução do arsenal nuclear por comum acordo entre as duas superpotências, as assessorias dos Governos de Washington e Moscou prepararam para ser negociada na reunião de cúpula realizada em Genebra, em novembro último, as posições abaixo resumidas:
A reunião de cúpula de Genebra, entre os Presidentes Reagan e Gorbachev, terminou sem acordo algum envolvendo números; mas inaugurou um clima de conversação cordial entre os dois dirigen¬tes das maiores superpotências, clima este que, no futuro, poderá resultar em medidas mais efetivas de controle e redução de armas nucleares.
A respeito de vetores de lançamento de mísseis balísticos, portadores de cabeças nucleares, desenvolve-se, nos Estados Unidos, calorosa polêmica entre os especialistas sobre qual seria o mais importante - o ICBM lançado de terra, ou o SLBM lançado de submarino.
Durante muito tempo perdurou a opinião de que os lançamentos de terra ganhavam em estabilidade da base, dos silos, e, portanto, em grau de precisão sobre os alvos.
Ultimamente, o Presidente do Instituto Oceanográfico de Massachussets, Dr. Roberto Spindel, vem apresentando nova tese sobre a importância maior dos lançamentos de submarinos em face dos novos recursos da informática e da eletrônica colocados em siste¬ma com o vetar e o alvo.
A Marinha dos Estados Unidos acaba de instalar um novo sistema passivo de detecção de submarinos inimigos, chamado Sis¬tema de Vigilância por Sensores de Sonda Rebocados (SURTASS). Este é rebocado por um navio oceanográfico geodésico de buscas (T-AGOS).
O T-AGOS navega a uma velocidade de 7 km/hora em busca de submarinos inimigos. Cada navio reboca um cabo de cerca de 5.000 metros, com uma fileira de hidrofones  supersensíveis em sua ponta. Este aparato é apto a captar as transmissões emitidas por submarinos inimigos, mesmo na baixa freqüência, de 100 a 300 hertz.
Na moderna guerra, o engenho mais eficaz é o sonar passivo, que não faz nenhum ruído e se guia pelos sons emitidos pelo submarino inimigo. Mesmo os submarinos mais silenciosos emitem uma certa massa sonora que permite identificá-los. Por isto, engenheiros soviéticos e norte-americanos trabalham intensamente em laboratórios oceanográficos, à procura de processos capazes de reduzir a fricção dos cascos dos submarinos com a água, diminuindo o ruído e aumentando a velocidade. No que respeita à propagação dos ruídos da fricção, alguns artifícios vêm sendo experimentados pelos soviéticos, como seja: a secreção de uma solução viscosa através de pequenos buracos na torre do submarino; esta camada artificial reduziria a turbulência. Outro artifício técnico seria a injeção de nuvens de bolhas microscópicas em volta do casco, diminuindo a turbulência e absorvendo os ruídos. Mesmo sem estas inovações, os submarinos soviéticos têm características que dificultam sua detecção pelo equipamento elétrico eletrônico até hoje em uso. Por exemplo, o modelo Alfa, que foi lançado ao mar em 1970, possui um motor nuclear avançado e um casco de titânio que o torna mais veloz e apto a navegar em maiores profundidades: 80 km/horários e 750 metros de profun¬didade, enquanto que as características da melhor classe de submarinos norte-americanos, hoje conhecida, são 57 km/horários e 443 metros de profundidade. Além dessa vantagem de fabricação, os soviéticos consideram as águas geladas nas proximidades das costas do Oceano Ártico, onde se abriga a maioria de seus subma¬rinos portadores de armas nucleares, como as mais favoráveis à ocultação e, além disso, próximas de seus alvos em território norte-americano. A navegação a grande profundidade apresenta a melhor proteção dos submarinos contra o equipamento de detecção inimiga, cada vez mais sofisticado. A profundidade de nave¬gação é limitada pela pressão que o casco pode suportar e pela freqüência com que o submarino precisa se comunicar com o seu comando.
Quanto às dificuldades de comunicações a grande profundidade, vêm sendo superadas, na Marinha dos Estados Unidos, pelo uso do laser-azul. Em experiência recente um raio laser Xenônio clorídrico, num comprimento de onda de 0,459 mícron, projetado de um avião a 6.000 mil metros de altura, passou através das nuvens e da camada liquida, sendo captado por um submarino em profundidade operacional. O receptor do submarino terá que ser equipado com um sistema de decodificação também já inventado e em experiência.
 Estratégia Espacial ou "Guerra nas Estrelas"
Um dos temas mais debatidos nos meios da alta Política e da Estratégia dos Estados Unidos e da União Soviética é a guerra espacial ou, como é jornalisticamente tratada, a guerra nas estrelas.
Esta segundo alguns técnicos e estrategistas norte-americanos, será capaz de cobrir os alvos mais importantes do seu território por um "escudo protetor contra um ataque nuclear".
Este conceito advém dos progressos alcançados no campo do emprego dos mísseis, dos satélites, do raio laser e de partículas neutras. Julgam os membros do grupo encarregado do estudo e das experiências dessa nova tecnologia espacial, integrantes de uma organização oficial denominada "Strategic Defense Initiative", que é possível assegurar a proteção do. território norte-americano através de um sistema de estações emissoras de raio laser baseado em estações de terra e em satélites, capaz de desintegrar, em órbita, mísseis atacantes portadores de cabeças nucleares.
Seria uma forma defensiva ativa a se acrescentar aos sistemas passivos baseados nos abrigos protetores e na mobilidade das estações c!e lançamento.
O conceito de defesa nuclear, contido nas.atividades de peso quisa do "Strategic Defense Institute"   composto de um grupo coordenador no Pentágono liderado pelo General Abrahamson e divulgado através de estudos e encomendas distribuídas a várias universidades e empresas, foi apresentado pela UNIÃO SOVIÉTICA
 O elevado custo do programa SD I e a necessidade de manter o poder de dissuasão durante a montagem do novo sistema levam os críticos do programa a duvidarem de sua implantação.
De qualquer forma, o Governo Reagan aprovou o orçamento para um projeto de cinco anos; embora algumas questões básicas ainda estejam em fase de pesquisa laboratorial.
O conceito estratégico de defesa do SOIl baseia-se na intercep¬tação dos mísseis balísticos inimigos portadores de cabeças nucleares (de 1 a 10) na sua trajetória no espaço.
Os mísseis intercontinentais, lançados de terra ou de submarinos, percorrem uma trajetória onde se distinguem três fases:
•             fase de propulsão (ou de ascensão) na qual o foguete conduz as cabeças nucleares à sua órbita planetária;
•             fase de navegação orbital na qual o míssil  (cabeça) nuclear munido de um sistema de navegação próprio, associado a um computador programado com todas as informações sobre o alvo, percorre seu itinerário na estratosfera;
•             fase de reentrada na atmosfera quando as ogivas nucleares dirigem-se para os alvos.
Todo o esforço da defesa deve se concentrar na possibilidade de destruir o foguete na fase de ascensão, quando está com todas as cabeças nucleares reunidas no mesmo invólucro. A destruição do míssil nesta fase evita a busca e a interceptação das cabeças nucleares na sua navegação orbital ou na reentrada na atmosfera.
Na fase de navegação orbital será necessário que um sistema seletivo separe os falsos misseis (chamarizes) dos verdadeiros, a estes dirigindo as cargas de raio laser emitidas por satélites ou refletidas de satélites-espelhos.
Na fase de reentrada dos mísseis nucleares na atmosfera as armas - instaladas em terra, canhões e eletromagnéticos, e também nuvens de partículas de raio laser são empregados para destruí-los
É muito importante que o sistema de defesa possua recursos para distinguir entre ogivas nucleares verdadeiras e falsas ou chamarizes. O processo utilizado é o de eliminar com raios de luz de energia dirigida, uma espécie de radar laser capaz de diferenciar as armas falsas das verdadeiras. Na fase terminal da trajetória, um sistema de radar auto transportado deve indicar quais as ogivas verdadeiras, a fim de que os foguetes interceptadores possam agir.
Todo este sistema de armas será inútil sem a existência de subsistemas de comando e controle, capazes de detectar, acompanhar, fazer a pontaria e disparar as armas, bem como detectar quais os alvos destruídos a fim de concentrar a defesa nos restantes. Esse subsistema é de grande complexidade e deve ser protegido para que tudo possa funcionar. ~ preciso lembrar que o percurso completo de um míssil da União Soviética para os Estados Unidos dura, apenas, cerca de 30 minutos.
Tal sistema e subsistemas, exigindo tantas armas, sensores e equipamento altamente sofisticado a serem colocados em te(ra, no mar e no espaço apresentará complexos problemas de custo, logística e manutenção. As opiniões de técnicos e estrategistas norte-americanos divergem sobre a importância estratégica deste sistema para a defesa do território norte-americano contra ataques com armas nucleares. Os oponentes do sistema de defesa SDI alegam que não há defesa perfeita, que o projeto é tecnicamente inviável e seu custo absurdamente alto. Seus partidários argúem que a defesa total, mesmo se impossível, é irrelevante, pois basta que um núcleo substancial de bases de lançamento seja perfeitamente defendido para que o poder de retaliação preservado desencoraje qualquer impulso de "primeira agressão"; aumentando o grau de incerteza do agressor e o poder dissuasivo do agredido.
Na última reunião de cúpula entre os dois chefes de governo das superpotências, o Presidente Reagan e o dirigente soviético Gorbachev, realizada em novembro, em Genebra, em que pese a oposição clara (pelo chefe do governo de Moscou, no sentido de não aceitar nenhum acordo que incluísse a aceitação da "guerra nas estrelas", manteve-se a firme decisão do Presidente dos Estados Unidos em levar avante o seu programa. Mesmo assim. o encontro de cúpula foi considerado uma fase de diálogo cordial entre os chefes de Estado das duas mais poderosas e antagônicas Nações do mundo.
A implantação do programa espacial de Reagan abrirá nova perspectiva à Estratégia da guerra nuclear  pois pela primeira vez  desde os lançamentos das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki surge um meio defensivo, apoiado por sofisticado arsenal tecnológico, capaz de conter a ameaça de uma ofensiva nuclear. Até hoje a estratégia adotada por ambos os lados vinha sendo a de aceitar a irreversibilidade da dissuasão, cujo resultado era a escalada das armas nucleares. Visando a discriminar as atividades relativas à guerra espacial, o Governo dos Estados Unidos estabeleceu, em 1982, uma Política Nacional para o Espaço tendo em vista estimular e coordenar programas de defesa civil e segurança militar. Como parte desses programas a Marinha e a Força Aérea receberam comandos do espaço a fim de centralizar as atividades e coordenar as pesquisas. Segundo a política espacial estabelecida, os objetivos são: proso seguir um vigoroso programa espacial capaz de assegurar, no futuro, as opções que venham a se apresentar; colocar no espaço aquelas atividades de segurança que ali possam ser melhor atendidas e a menor custo, substituindo bases terrestres ou marítimas; desenvolver um sistema anti-satélite capaz de assegurar aos Estados Unidos o livre acesso ao espaço, a fim de interceptar os ataques soviéticos contra satélites.
Os programas espaciais norte-americanos visam a:
•             tornar os próprios sistemas espaciais menos vulneráveis;
•             aperfeiçoar, por meio de continua evolução técnica, os sistemas de vigilância, comunicação e navegação espaciais;
•             aumentar a flexibilidade da rede de sistemas, eliminando os pontos críticos, lançando novos satélites e reduzindo a dependência das bases marítimas e terrestres;
•             estabelecer um sistema de satélites com missões múltiplas e a vida operacional mais longa.

Em síntese, o conceito estratégico válido para a guerra nuclear nestes últimos 30 anos, desde que se estabeleceu a escalada entre as duas superpotências, foi o da destruição mútua assegurada. Ambos os lados buscaram desacelerar a escalada por uma  estratégia de resposta flexível. Predominou, portanto, como solução única, a ofensiva - concentração de meios ofensivos, equilíbrio de meios ofensivos, capacidade de uso flexível das armas ofensivas. Em termos defensivos, após as tentativas frustradas dos anos 70 dos sistemas antimísseis, os recursos mais conhecidos são os da defesa passiva: silos protegidos, aperfeiçoamento do sistema de vigilância e alerta, melhoria dos sistemas de comando. Mesmo o míssil antimíssil, tão falado nos anos 70, só assegura uma defesa precária na fase final da trajetória da cabeça nuclear, já na sua entrada na atmosfera. O novo sistema que vamos tratar, chamado de Iniciativa de Defesa Estratégica (SOI), virá revigorar a capacidade defensiva na Estratégia nuclear.
Dos objetivos estratégicos almejados através da "Strategic Defense Iniciative" (SOI) diz o Embaixador David M. Abshire, representante permanente dos Estados Unidos no Conselho da OTAN:
"O objetivo declarado do SOI é avaliar o potencial de uma série de tecnologias não-nucleares que encerrem a promessa de uma defesa efetiva contra mísseis balísticos. Na época do Tratado de 1972 (que limitou o desenvolvimento dos progra¬mas de mísseis anti-balísticos, dos mísseis antimísseis o estado da tecnologia era tal que as defesas contra mísseis balísticos ficavam grandemente limitadas ao ataque às ogivas nucleares durante a fase terminal do vôo. Desde então, os avanços tecnológicos já alcançados e emergentes  oferecem a possibilidade de opções não - nucleares para a destruição de mísseis e suas ogivas nucleares em todas as fases de vôo'."
 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR
Clausewitz, o teórico da guerra, consagrado pelos mais modernos escritores militares do século XX, em que pese ter publicado suas obras na primeira metade do século XIX, apregoa a importância do plano de guerra do qual decorrem os planos de campanha.
O plano de guerra, segundo o autor prussiano, deve envolver o "ato militar como um todo" Por isto, ele compreende a previsão do desenvolvi menta de toda a guerra, a extensão dos meios a serem empregados e a medida do esforço necessário para cada ação: A influência deste plano-matriz deve se manifestar nos planos e ações dos menores escalões.
O "ato militar" visa a um objetivo final, para cujo alcance todos os objetivos particulares devem convergir.
Diz ainda o clássico alemão: "A pressão que devemos empregar sobre o inimigo ou inimigo será dosada segundo a nossa capa¬cidade militar disponível e nossos objetivos políticos. Quando conhecemos perfeitamente nossa capacidade militar e nossos interesses políticos, estamos em condições de medir os esfor¬ços no espaço e no tempo. A situação e relação entre os Estados envolvidos podem representar uma segunda condicionante de nos¬sa decisão sobre o momento de realizar os esforços."
Estes fundamentos para o Plano Militar, destacados da obra de Clausewitz, foram plenamente aceitos pelos escritores miltares de nosso século, em particular Liddell Hart, Almirante Castex e General Beaufre.
O Manual de Planejamento de nosso Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA) estabelece em linha gerais um Método para o planejamento militar. Este Método, no essencial, não se afasta do pensamento de Clausewitz e Liddell Hart sobre o assunto,
Diz o Manual do EMFA:
"O Plano de Guerra é estabelecido para cobrir todos os aspectos relacionados com uma Hipótese de Guerra. Haverá, pois, tantos planos de guerra quantas as Hipóteses de Guerra consideradas. "
Sendo a Hipótese de Guerra (HG) a peça chave de onde se extrai o Plano de Guerra, vejamos de que se compõe esta Hipótese. A Hipótese de Guerra deve conter:
•             o tipo de guerra que Hipótese pode concretizar;
•             elementos básicos da possibilidade de sua concretização;
•             áreas geográficas com probabilidade de envolvimento no conflito;
•             extensão provável das ações;
•             as áreas prováveis de aplicação do poder nacional;
•             grau de ameaça;
•             prazos;
•             possibilidades do inimigo

A Hipótese de Guerra gera o Conceito Estratégico-Militar, no qual se encontra a Concepçi1o Geral da Guerra que deve orientar o planejamento estratégico militar. Esta Concepção contém:
•             ações a neutralizar (políticas, econômicas, psicossociais);
•             espaços geográficos a preservar:
•             áreas e instalações a conquistar;
•             proteção das fronteiras terrestres e marítimas;
•             proteção do espaço aéreo;
•             controle de áreas marítimas;
•             avaliação dos compromissos internacionais nossos e do inimigo;
•             ações estratégicas militares a realizar.

Da Concepção Geral da Guerra, atribuição do Conselho de Segurança Nacional, são extraídas as Diretrizes de Planejamento Militar, elaboradas pelo EMFA, que é o Estado-Maior do Presidente da República na sua qualidade de Comandante-em-Chefe das Forças Armadas.
Como órgão de assessoria, o Presidente da República dispõe, também, do Alto-Comando das Forças Armadas (ACFA), órgão não-permanente, convocado quando se faz necessário e composto pelos Ministros Militares e respectivos Chefes de Estado-Maior.
Diz o Manual de Planejamento do EMFA que as Diretrizes de Planejamento Militar devem incluir, entre outros, os seguintes tópicos:
•             Finalidade das Diretrizes;
•             Hipótese de Guerra considerada;
•             Objetivos de Guerra;
•             Concepção Geral da Guerra;
•             Concepção Militar da Guerra;
•             Aprestamento Militar;
•             Informações Militares;
•             Mobilização Militar.
De acordo com g nossa doutrina e metodologia, o Planejamento Militar visa a:
•             "previsão de ações estratégicas que se contraponham aos antagonismos ou pressões de origem externa ou interna, que se manifestem ou possam manifestar-se no domínio das relações internacionais ou no campo interno e que só possam ser afastadas pela Expressão Militar do Poder Nacional".
Cada Plano de Guerra (relativo a cada Hipótese de Guerra) compreende:
•             Plano Político de Guerra;
•             Plano Econômico de Guerra;
•             Plano Psicossocial de Guerra;
•             Plano Militar de Guerra.

Aos três primeiros correspondem:
•             um Plano de Aplicação do Poder;
•             um Plano de Informações;
•             um Plano de Mobilização.

O Plano Militar de Guerra comportará:
•             Plano de Emprego de Forças;
•             Plano Militar de Informações;
•             Plano de Mobilização Militar.

Em face do prazo crítico para o planejamento militar estabelecido nas Diretrizes de Planejamento e da eventualidade de uma eclosão inesperada, a técnica indica a necessidade de dois tipos de Planos de Guerra:
•             Plano Normal (para atender a HG dentro do prazo crítico estabelecido) ;
•             Plano de Emergência (para atender a HG em face da eventual antecipação desse prazo).

O Plano Militar de Guerra, elaborado pelo Estado-Maior Combinado, no Brasil, o Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA) em coordenação com o Conselho de Chefes do Estado-Maior, tem por finalidade o preparo e o emprego das forças militares para atender aos objetivos estabelecidos na Hipótese de Guerra. Comporta os seguintes planos:
•             Plano de Emprego de Forças;
•             Plano de Informações;
•             Plano de Mobilização;.
•             Plano de Aprestamento;
•             Plano de Equipamento;
•             Plano de Reaparelhamento.

Por sua vez, o Plano de Emprego de Forças compreende:
•             Plano de Campanha de Teatro de Operações (TO);
•             Plano de Informações;
•             Plano de Defesa Territorial;
•             Plano de Defesa Aérea.

De o Plano Militar de Guerra são extraídas as Diretrizes de Planejamento para as Forças Singulares (Exército, Marinha e Força Aérea).
O planejamento militar das forças singulares, a cargo dos respectivos Estados-Maiores, estabelece o preparo e o emprego da força visando a sua atuação dentro. do prescrito no Plano Militar de Guerra.
No que for aplicável, a técnica de planejamento deve ser a mesma, no Estado-Maior Combinado e nos Estados-Maiores singulares.
Em princípio, a Metodologia de Planejamento Militar obedece à seguinte seqüência técnica:
Hipótese de Guerra (HG) - Extraída do Conceito Estratégico Nacional elaborado pelo Conselho de Segurança Nacional (CSN)
Conceito Estratégico Militar (CEM) -Elaborado pelo Conse• lho de Segurança Nacional com a participação do Alto¬Comando das Forças Armadas (ACFA). baseado na HG. A Concepção Geral de Guerra é parte do CEM.
Diretrizes para o Planejamento Militar (DPM) - Elaboradas pelo EMFA em coordenação com o Conselho de Chefes do Estado-Maior (CCEM) baseado no Conceito Estratégico Militar e na Concepção Geral de Guerra.
Plano Militar de Guerra (PMG) - Elaborado pelo EMFA em coordenação com o Conselho de Chefes do Estado Maior (CCEM) baseado nas Diretrizes
Diretrizes para o Planejamento das Forças Singulares (DPPS) - Elaboradas pelo EMFA em coordenação com o Conselho de Chefes do Estado-Maior (CCEM), baseadas no Plano Militar de Guerra.
Planos Militares das Forças Singulares (Marinha, Exército e Força Aérea) - Elaborados pelos Estados-Maiores das respectivas Forças Singulares.
Da Concepção Geral da Guerra resulta a Concepção das Operações referentes a cada Hipótese, que deve ser objeto de planejamento por órgãos combinados das três forças singulares (no Brasil, a cargo do Estado-Maior das Forças Armadas, que utiliza para a coordenação do planejamento estratégico militar o Conselho de Chefes de Estado-Maior, ou seja: os Chefes de Estado-Maior da Marinha, Exército e Força Aérea).
O planejamento estratégico militar combinado dá lugar ao planejamento das Forças Singulares, visando a atender às exigências operacionais inerentes a cada força.
Assim, teremos, além da Estratégia Combinada, a Estratégia de Operações Conjuntas e as Estratégias Singulares, que podem ser conceituadas como se segue:
•             Estratégia Militar Combinada-A arte de dispor e acionar as Forças Armadas em ações integradas, sob comando unificado, a fim de alcançar os objetivos consignados.
•             Estratégia de Operações Conjuntas -A arte de empregar duas ou três Forças Singulares, por coordenação dos comandos e Estados-Maiores, sem a existência de um comando unificado.
•             Estratégia Naval - A arte de dispor e acionar a Força Naval para as Nações marítimas, em conexão com suas bases e com a utilização dos meios aéreos. Deve garantir o domínio do mar (na área considerada estratégica), para exercer o controle das vias marítimas, tanto ao longo das costas como em pleno oceano e impedir o adversário de utilizá-Ias e alcançar os objetivos afetos à esfera marítima. (No Brasil se considera, separadamente, uma estratégia Marítima, mais ampla, e a Estratégia Naval, dela decorrente.)
•             Estratégia Terrestre - A arte de dispor de Grandes Comandos e Grandes Unidades Terrestres e conduzi-los para a batalha.
•             Estratégia Aérea  - A arte de articular bases e empregar meios a fim de ganhar e manter a supremacia ou a superioridade aérea e atacar objetivos no interior do territ6rio inimigo ou no mar.

A Estratégia Operacional quer seja combinada, quer seja das Forças Singulares, exige, para a concretização de suas disposições a existência de linhas de coerência entre a concepção e a execução, ou melhor, instrumentos que convertem a formulação de procedimentos em ação efetiva e que a dirijam para o objetivo visado.
Assim, a Estratégia Operacional situa-se entre a Estratégia e a Tática. (Nos livros de Clausewitz e de Liddell Hart, distanciados um do outro de um século, percebemos que ambos sentiram a necessidade de estabelecer não uma linha divisória mas uma faixa de transição entre a Tática e a Estratégia quando se trata de operações militares.)
Como Estratégia Operacional, conceituaremos: a arte de deslocar, desdobrar, preparar o emprego e empregar as forças, visan¬do a atingir, em melhores condições, os objetivos designados.
A Estratégia Operacional pode se desenvolver tanto no nível de Teatro de Operações, isto é, ao nível de forças combinadas, como ao nível das Forças Singulares, com ou sem o apoio de outra força.


CONSIDERACÔES SOBRE A ESTRATÉGIA DE OPERACÔES COMBINADAS
A II Guerra Mundial marcou o surgimento das Operações Combinadas, com largo emprego no Pacífico, na invasão do Norte da África, na invasão da Normandia e no desdobramento de toda campanha continental na Europa. Dado à extensão dos teatros de operação, ã variedade de meios empregados e a  necessidade de coordenação de todas as ações visando ao objetivo, ou objetivos, de guerra estabelecidos, as operações independentes de forças singulares deixaram de ter cabimento.
Naquela guerra os Estados Unidos tiveram dois grandes comandos combinados e multinacionais sob a chefia de Eisenhower e de MacArthur, respectivamente, na Europa e no Pacífico. A União Soviética teve o Conselho Militar Geral, órgão colegiado encarregado da Política de guerra, e comando operacional às Forças Armadas. A Alemanha hitlerista organizou o Comando-em-Chefe das Forças Armadas servido por um Estado-Maior Combinado; exerceram, sucessivamente o Comando-em-Chefe os Generais Blomberg e Keitel, e a chefia do Estado-Maior Geral, os Generais Beck, Halder, Zeitzler e Guderian.
“No curso daquele conflito, além dos supremos comandos operacionais, combinados, foram criados” na estrutura dos Estados envolvidos, no conflito, órgãos permanentes de planejamento militar. Nos Estados Unidos nasceu a "Joint Chief Staff", Junta de Chefes do Estado-Maior, vulgarmente chamada de Pentágono por se abrigar em enorme edifício pentagonal. Na União Soviética mantém-se o Comando-em-Chefe das Forças Armadas e seu Estado-Maior Combinado. Na Inglaterra, França e Itália existem os órgãos de comando e de planejamento militar correspondentes.
No Brasil, a repercussão do evento bélico de 1939-1945, ao qual estivemos presentes no Teatro de Operações do Mediterrâneo, na Europa, com a nossa Força Expedicionária do Exército, nosso Grupo de Caças da Força Aérea e nossa Marinha de Guerra na proteção de comboios e guerra anti-submarina particularmente no - Atlântico Sul, levou o Governo a criar, em 1947, o Estado Maior Geral, uma primeira tentativa de coordenar  o emprego das Forças Singulares. Mais tarde, foi o Estado-Maior Geral trans¬formado em Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA).
As Operações Combinadas pouco a pouco substituíram o conceito de Operações Conjuntas, cuja necessidade já vinha se manifestando havia mais tempo. Na Operação Conjunta entre duas ou três Forças Singulares, o planejamento e o emprego são realizados por coordenação, sem,a existência de um comando único. A grande transformação que trouxe a Operação Combi¬nada é o planejamento e o emprego serem dirigidos por um,comando unificado, servido por um Estado-Maior Combinado. Não foi fácil, nem na Europa nem aos Estados Unidos, a implantação do comando unificado servido por um Estado-Maior Combinado, pois exigiu a submissão do orgulho tradicional da Força Singular submetendo-se a um comando de outra força.
A tentativa de se criar um comando unificado começou a ser sentida desde o início da I Guerra Mundial, mas as resistências foram muito grandes e no último ano do conflito, em 1918, o General Foch, francês, passou a comandar as forças multinacionais dos Estados Unidos, Inglaterra e França, assim como as operações das forças combinadas desses três países aliados. Foi uma tentativa que não teve tempo para se implantar plenamente, o que só aconteceu por ocasião da II Guerra Mundial, como vimos acima.
No período de pós-guerra, com a criação do Pacto do Atlântico Norte, em 1949, e do Pacto de Varsóvia, em 1955, consolidaram-se simultaneamente os dois conceitos sobre comando e planejamento militar. O primeiro, de comando unificado multinacional e o segundo de planejamento militar combinado multinacional. Este sistema interaliado de comando e de planejamento militar vem funcionando com normalidade neste período de pós-guerra e removeu vários antigos tabus, como o do estacionamento de comandos e tropas de um país aliado em território de outro, desde o tempo de paz. Isto há 40 anos seria insuportável por motivo de lesa-soberania.
No Brasil o planejamento estratégico-militar combinado está a cargo do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA), que o realiza em coordenação com o Conselho de Chefes do Estado Maior (CCEM) das Forças Singulares, em obediência ao estipu¬lado nas Diretrizes para o Planejamento Militar-(veja o Cap. Planejamento Estratégico Militar).
Comandos e Estados-Maiores Combinados de menor nível estão previstos para os Teatros de Operações (TO), Zonas de Defesa (ZO) e Força Tarefa Combinada(FTC).
De acordo com a doutrina estabelecida pelo nosso EMFA as seguintes conceituações devem ser entendidas:
•             Teatro de Operações (TO) - Parte do Teatro de Guerra necessária à condução das operações militares para o cum¬primento de determinada missão e o conseqüente apoio administrativo.
•             Zona de Defesa (ZD) - Porções do Teatro de Guerra no interior das quais se realizam operações de defesa territo¬rial destinadas à salvaguarda do potencial de guerra da Nação, inclusive a preservação da ordem interna contra todas as formas de agressão, partidas de fora do território nacional ou de dentro dele, exceto aquelas que se produzam no âmbito dos Teatros de Operações.
•             Força Tarefa Combinada (FTC) - Organizada eventualmente para o cumprimento de uma missão especial; tem característica essencialmente operacional.
Usualmente, o comando unificado combinado é entregue a um oficial-general da Força Singular, cujo emprego será predominante no TO, ZO ou FTC considerado. Assim, por exemplo, nos TO continentais o comandante seria de Força Terrestre, nos TO marítimos seria das Forças Navais e nos TO com características de grande extensão geográfica e com precariedade ou descontinuidade de transportes terrestres ou marítimos, caberia â Força Aérea.
No caso do Pacto do Atlântico Norte, por exemplo, a estrutura dos comandos e Estados-Maiores combinados é a seguinte:
TO Continental Europeu-Comandante do Exército TO Marítimo do Atlântico -Comandante da Marinha de Guerra TO do Mediterrâneo -Comandante da Marinha de Guerra
Como características das Operações Combinadas destacam-se:
•             direção centralizada, essencial para a coordenação do emprego das forças componentes;
•             execução descentralizada, decorrente da impossibilidade de um comando controlar as ações pormenorizadas de um número grande de forças;
•             aplicação de uma doutrina comum, que visa a promover a unidade de procedi mento entre os comandos, de modo que, mesmo na falta de instruções especificas, eles possam conduzir ações concordantes." (Manual de Comando Combinado e Conjunto, EMFA, 1978.) fundamental para o êxito das Operações Combinadas:
•             "o estabeleci mento de uma doutrina de operações com¬binadas;
•             planejamento e condução das operações exercidas por um comando combinado;
•             preparo e adestramento das Forças Singulares para tipos específicos de operações combinadas;

•             delimitação de responsabilidade. "' (Manual de Coman¬do Combinado e Conjunto, EMFA, 1978.)
Os Estados-Maiores Combinados para realizarem sua atribui¬ção de planejamento estratégico militar combinado são, normal¬mente, estruturados em dois grupos:
Estado-Maior Geral-Composto das seguintes divisões ou seções de assuntos específicos:
•             pessoal;
•             informações; • operações;
•             logística;
•             planejamento.

Estado-Maior Especial-Composto de diversas divisões ou seções correspondentes aos serviços técnicos ou administrati¬vos; por exemplo:
•             administração;
•             comunicações e eletrônica;
•             assuntos civis e governo militar;
•             engenharia;
•             transporte;
•             consultoria jurídica;
•             chefia de policia;
•             comando do Quartel General;
•             assistência religiosa,
•             saúde.

A complexidade dos problemas afetos a um Estado-Maior combinado exige que seu trabalho de planejamento se realize em clima de maior entendimento, espírito de cooperação e obediência a uma técnica disciplinadora das atividades.
Por técnica de planejamento devemos entender o conjunto de métodos e processos adotados para o trabalho a ser executado por um chefe e seus auxiliares diretos, por forma a permitir:
•             objetividade;
•             economia: necessária a liberdade de ação do chefe;
•             acompanhamento permanente, por parte do chefe, da evolução dos acontecimentos para a obtenção de soluções adequadas e oportunas.

Esta técnica de planejamento deve se impor pela obediência aos seguintes requisitos:
•             fixação de Normas de Funcionamento do Estado-Maior;
•             adoção de uma norma de Trabalho de Comando;
•             adoção de um Método de Raciocínio para a solução dos problemas.

A norma de Trabalho de Comando deve estabelecer:
•             estudo de situação;
•             método de planejamento;
•             modelos de Planos, Ordens, Diretrizes e Instruções;
•             processos de supervisão do planejamento.

Dos mais importantes trabalhos de planejamento do Estado Maior Combinado é o Levantamento Estratégico de Área, para fins operacionais ou logísticos, abrangendo a avaliação de todos os recursos que determinam e condicionam o potencial e a importância militares da área em questão. A síntese desse levantamento deve resultar na integração de todos os dados que configurem o valor efetivo da área. Este levantamento iniciado desde o tempo de paz, envolvendo as áreas prováveis de TO, ZD ou Zona do Interior (ZI), deve ser acompanhado e atualizado permanentemente

Encerrando este capitulo, em que tratamos sucintamente do  comando unificado e dos Estados-Maiores Combinados, desejamos fazer alguns comentários sobre a situação de nossas Forças Armadas no que se refere a esses conceitos modernos_
Tão logo terminou a II Guerra Mundial, nossas autoridades sentiram a necessidade de criar um órgão coordenador do plane¬jamento militar combinado, o Estado-Maior Geral e depois o Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA). No decorrer destes últimos 40 anos a legislação que trata dos assuntos vem assegurando, pouco a pouco, ao Chefe do EMFA, um progressivo aumen¬to de autoridade coordenadora, tanto que o Decreto-Lei nº 200, de 1974, elevou-o ao nível de Ministro militar.
Na situação atual o Ministro-Chefe do EMFA tem autoridade legal para elaborar o planejamento militar estratégico em coordenação com o Conselho de .Chefes do Estado-Maior das Forças Singulares.
O espírito da legislação vigente 110º  permite aduzir que o Chefe do EMFA é também o Chefe do Estado-Maior do Presidente da República, na sua qualidade de Comandante-em-chefe das Forças Armadas. Igualmente é o Secretário natural do Alto Comando das Forças Armadas, o mais alto órgão de assessoria militar do Comando-em-Chefe, quando este for convocado.
A ausência de ameaça militar grave não tem indicado a necessidade da convocação do Alto-Comando das Forças Armadas, razão porque sua normativa de funcionamento ainda não está claramente definida.
Quer nos parecer que, no que tange à implantação de um Estado-Maior Combinado para o planejamento militar, nossa legislação satisfaz às exigências da guerra moderna. No que se refere ao Comando Único para as Forças Armadas, ainda há relutâncias e resistências a vencer, mas, através da figura do Co¬mandante Supremo (Presidente da República), do ACFA e do EMFA esta necessidade de planejamento, emprego e ação inte¬grada pode ser superada até que, realmente, venhamos a ter que enfrentar as realidades de um conflito bélico.
SUGESTÕES PARA UMA ESTRATÉGIA MILITAR BRASILEIRA
Sendo a Estratégia uma decorrência da Política, é nesta que teremos que buscar os seus fundamentos.
A Política militar, fonte inspiradora da Estratégia militar, terá sua base na avaliação dos antagonismos internacionais existentes ou potenciais, capazes de gerar uma situação de necessidade de emprego da força para a preservação da soberania ou de superiores interesses nacionais.
Onde se encontram, principalmente, as fontes de antagonis¬mos 'internacionais? Nas reivindicações fronteiriças ou territoriais; na disputa de áreas de interesse econômico; na disputa ideológica; nos sonhos megalomaníacos de certos ditadores ou lideres carismáticos.
A História nos ensina que essas fontes de antagonismo pro¬duzem nas Nações um "espírito" de satisfação ou de insatisfação, facilmente explorado e conduzido por lideres carismáticos.
Veja-se, por exemplo, o Império Russo e agora a União Soviética preservarem durante dois séculos sua insatisfação face às dificuldades de seu território europeu em abeirar-se dos lugares quentes. Veja-se a Alemanha desde o reino da Prússia até o final da II Guerra Mundial viver a insatisfação de possuir um território pequeno e mal posicionado. Ambos os exemplos têm sido geradores de conflitos internacionais permanentes e guerras sangrentas e obrigaram seus vizinhos a uma atitude permanente de defesa.
E principio consagrado do direito internacional que o emprego da força  se justificada quando todos os recursos da diplomacia estejam esgotados.
No tocante ao Brasil, apreciando-se os antagonismos que possam vir a comprometer nossa postura política, não encontramos, presentemente, nenhum capaz de gerar uma pressão dominante, incontornável, que justifique o uso da força. Nesta quadra de nossa existência política, no cenário das relações internacionais, vivemos isentos de qualquer tipo de pressão maior que possa representar ameaça física imediata, razão porque nossa Estratégia militar deve ser preventiva, de atitude defensiva.
Nossa atitude defensiva deve se manter alerta, também, contra os perigos da guerra revolucionária comunista, que se apresenta sob vários matizes e coloridos, infiltrada em nossos sindicatos, grêmios estudantis, instituições culturais, órgãos de publicidade, imprensa falada, escrita e televisada, organizações políticas, visando, sempre, à conquista do poder, a fim de implantar em nosso País um regime fiel aos ditames do socialismo marxista liderado por Moscou ou uma de suas filiais.
Do ponto de vista geopolítico podemos nos classificar como "Nação satisfeita", sem ambições territoriais, sem antagonismos econômicos ou comerciais, sem estarmos submetidos a agudas pressões de agressão ideológica.
Nossas fronteiras terrestres com dez diferentes países sul americanos estão tranqüilos, com seus problemas de demarcação e reivindicações superados.
Nossas fronteiras marítimas, vis-à-vis com a costa ocidental do Continente Africano, não visualiza, entre as 20 repúblicas africanas vizinhas, nenhum par hostil. Nossos direitos de livre navegação oceânica não estão sendo contestados. Nossa expansão industrial e nosso comércio internacional desenvolvem-se sem oposição maior. A índole de nosso povo é pacífica. Por estas razões n-ão se justificaria que o Brasil não tivesse, senão, uma Política - militar defensiva.
Diante de nossa expressão geopolítica-território, população, industrialização, recursos naturais -devemos reconhecer que mesmo dentro de uma Política militar defensiva muito temos a preservar. Isto Posto, nossa Estratégia defensiva não deve significar uma postura de passividade, mas uma atitude de vigilância, nas fronteiras terrestres, marítimas e aéreas, na preservação das rotas que interessam à nossa liberdade de movimentos.
Nossa Estratégia defensiva deve se caracterizar pelo dina¬mismo do alerta e da vigilância na proteção do imenso patrimônio nacional. Deve guardar sempre uma capacidade de represália
 Nosso poder militar emana de uma importância geopolítica indiscutível no cenário mundial e não é conseqüência de uma intenção política militarista. Consideramos nossa projeção militar de potência média como uma contingência geográfica e geoestratégica (extensão territorial e posição do território), independente de nossa vontade política; é uma servidão de nossa grandeia.
Exemplo contrário seria, no contexto estratégico do mundo moderno, um pais adiantado como a Suíça querer ser potência média; esta vontade política seria superada pela exigüidade física de seu território, população e recursos materiais e projeção geoes¬tratégica na escala mundial.
Observando-se as contingências inelutáveis de nossa História neste século, verificamos que, por força de nossa expressão geopolítica e geoestratégica no contexto mundial, fomos já arrastados a participar dos dois últimos grandes conflitos de âmbito mundial.
Considerando a situação de potência média, podemos levantar alguns fundamentos para nossa Estratégia miIitar.
De nossa posição geoestratégica destacamos:
•            posição na América do Sul;
•             posição no Atlântico Sul;
•             interesses em outras áreas geográficas.
De nossos interesses econômicos salientamos:
•             manutenção das rotas comerciais com nossos principais clientes comerciais.
De nossa capacidade de mobilização consideramos:
•             população;
•             enormes recursos naturais do território;
•             capacidade técnico-industrial em constante progresso.

De nossas convicções político-ideológicas extraímos:
•             vinculação aos ideais democráticos e cristãos do Ocidente.
Este conjunto de servidões anímicas, geográficas e econômicas são os fundamentos sobre os quais deve ser montada a nossa Estratégia militar.
Em relação à nossa posição na América do Sul devemos considerar nossas enormes fronteiras terrestres de cerca de 15.700 km, confrontando-nos com 10 diferentes nacionalidades, e também a situação dessas fronteiras -vivas, em desenvolvi mento ou/mortas.
Há, perceptivelmente, uma franca evolução na situação de nossas fronteiras terrestres. Até 30 anos atrás tínhamos duas fronteiras vivas: com o Uruguai e com a Argentina. Hoje podemos considerar vivas certas partes das áreas fronteiriças com o Paraguai e Bolívia. Em nossa fronteira norte vão se formando núcleos de humanização e interesse econômico.
De qualquer forma, ante qualquer eventualidade, há uma idéia estratégica que devemos perseguir - criar uma força de dissuasão capaz de desencorajar qualquer tentativa de aventura militar contra nós, na América do Sul.
Em conseqüência de nossa expressão e identidade geopolítica, devemos considerar três estratégias militares: para o Atlântico Sul, para a Bacia do Prata e para a Amazônia.
Estratégia para o Atlântico Sul - A proteção de nossas linhas de comunicação no Atlântico Sul, de nosso comércio exterior e de nossas águas territoriais e nossas costas, exige que tenhamos uma Estratégia marítima, a qual será parte de uma Estratégia geral para o Atlântico Sul. Por outro lado, parece difícil, em caso de conflito de dimensões mundiais, separar-se a Estratégia  regional da geral para este oceano. Nossa projeção estratégica  vai um pouco além ,dos limites geodésicos do Atlântico Sul, como  veremos em seguida.
Não podemos ignorar que o bloqueio do Atlântico Sul, por potência ou potências hostis, nos colocará numa posição de isolamento e asfixia econômica. Já experimentamos esta prova duramente, por ocasião da II Guerra Mundial. Naquela ocasião, tivemos o apoio da Esquadra e Força Aéreas norte-americanas que vieram se somar aos esforços de nossas Forças Armadas. Até quando poderemos confiar na proteção de nosso comércio mar(timo a Forças aliadas?
O Brigadeiro Lavenêre-Wanderley, no ensaio Operações Aéreas no Atlântico Sul, observa o fato de que "as linhas de comunicação vitais para o Brasil, que na época da II Guerra Mundial se orientavam quase que exclusivamente no sentido dos meridianos, hoje se orientam, também, no sentido dos paralelos" Diz ainda
•             o Brigadeiro Wanderley, com sua responsabilidade de ex primeiro ministro da Aeronáutica, ex-chefe do Estado-Maior das Forças Arma¬das, e com sua reconhecida competência: "A Força Aérea Brasileira, ao estudar as, operações aéreas estratégicas para o futuro, deve dar a devida prioridade às operações aéreas no Atlântico Sul; ao estudar essas operações, deve adotar uma visão ampla do problema; estudar as operações aéreas do Atlântico Sul dando prioridade apenas à faixa litorânea, ou mesmo apenas à faixa de 200 milhas do mar continental, seria um grave erro; seria correr
•             o risco de deixar a Força Aérea estagnar tecnologicamente no campo das operações aéreas sobre áreas oceânicas de grande extensão e no campo da guerra anti-submarina; seria condenar a Força Aérea a, mais uma vez, tornar-se demasiadamente caudatária de nossos poderosos aliados; seria correr o risco de deixar a Força Aérea ausente numa área da maior importância estratégica para o Brasil."
A respeito do teatro de operações do Atlântico Sul, escreve o Brigadeiro Wanderley: "O Oceano Atlântico, de a linha Triangular do Arquipélago de Cabo Verde para o sul, constitui o teatro de operações que mais de perto interessa ao Brasil."
Este mesmo teatro de operações foi definido pelo Almirante Paulo Roxo de Freitas com seu limite norte mais amplo; indo até o Trópico de Câncer (limite sul da OTAN). Esta área geoestratégica está além daquele que elegemos neste trabalho. Fica¬mos com o limite norte do Brigadeiro Wanderley.
Nossa longa costa marítima, com um saliente projetado na direção da África, relembra-nos, sempre, a imagem criada pelo Presidente Roosevelt, da "ponte estratégica" Natal-Dacar. Distinguiremos dois segmentos da costa brasileira: a noroeste de Natal e ao sul de Natal. O primeiro está lançado para o norte e vinculado à comunidade marítima do Caribe, das ilhas oceânicas de Bermudas e Açores, da costa africana do Marrocos ao Senegal, e em extensão a Europa Ocidental. O segundo projeta os nossos interesses de condôminos numa área oceânica mais fechada, abrangendo a vertente atlântica da África - do Senegal ao Cabo, na África do Sul - atingindo os limites da Antártida e estreitando nossos tradicionais contatos marítimos com o Uruguai, Argentina, Paraguai (através do rio da Prata) e Chile, na ponta de terra que ocupa o estreito de Magalhães. Nesta ampla superfície oceânica e nesse mosaico de nações e territórios ribeirinhos devemos ser capazes de ter presença e de defender nossos interesses.
Nos dias em que estamos vivendo, a melhor maneira de defender interesses nacionais será integrá-los numa comunidade de interesses, reunindo tantos países quantos sejam aqueles vinculados à área de projeção marítima de nossa costa; seriam como que, dentro dos limites que elegemos, cerca de 40 nacionalidades.
Seria prematuro pensar-se, agora, numa comunidade defensiva abrangendo o segmento norte onde a costa brasileira abre sua projeção num imenso arco que ultrapassa a linha do Equador e lança os seus limites para a vasta área do Caribe e Gibraltar, incluindo, também, a importante faixa do canal do Panamá. O nosso esforço deverá se realizar essencialmente na modernização das instalações portuárias e aeroportos de Belém, na foz do Amazonas, São Luis, Fortaleza e Natal, adequando-as ao apoio de uma navegação de maior porte. No campo político, maior esforço deve ser realizado para estreitar nossas relações com os países da área das Guianas e os da região -do Caribe: Venezuela, Colômbia, América Central e ilhas antilhanas, assim como a República de Cabo Verde. Acreditamos que as Nações da América Central e das ilhas do Caribe representam um bom mercado à disposição de nossa política de exportação de produtos industrializados.
Voltando-se à parte austral, mais fechada, de mais fácil controle de navegação, tendo como limites, do lado sul-americano, o segmento da costa de Natal até o estreito de Magalhães e as passagens oceânicas mais ao sul, do lado africano, a extensão litorânea de Dacar ao Cabo, e ao extremo sul a Antártida, por a( passam as linhas de navegação vitais para a economia dos países do Ocidente: a rota do Cabo, por onde se escoa a  maior parte do petróleo do Oriente - Médio, destinado aos países da América do Sul, e principalmente à Europa Ocidental, ao Caribe e aos Estados Unidos; as passagens intéroceânicas no extremo sul: estreito de Magalhães, cabo Hornos e estreito de Drake; a rota costeira sul-americana que se trifurca na altura de Recife, demandando a costa africana, o Caribe e Estados Unidos, a Europa Ocidental.
A médio prazo, deverá crescer o nosso interesse estratégico nas rotas comerciais de sentido leste-oeste, isto é, da costa africana para a costa brasileira.
Na presente conjuntura, a rota do Cabo, por onde escoa o volume maior do petróleo destinado às Nações européias da Organização do Atlântico Norte (OTAN) e aos Estados Unidos, terá que ser protegida essencialmente pelo poder militar dos  Estados Unidos, em particular; e pela OTAN, pois eles estão  muito mais ameaçados em sua capacidade estratégica do que os países sul-americanos e africanos. Mas, não podemos continuar,  indefinidamente, pequenos caudatários da defesa dessa área  estratégica, cuja importância para n6s deverá se acentuar a médio  prazo. É mister que desde já comecemos a nos preparar para  assumir maior responsabilidade na segurança do Atlântico Sul,  relacionada à intensificação de nossos interesses comerciais com  a África e Oriente - Médio e ao crescimento previsto de nosso  poder marítimo.
Dentro dos gabaritos da moderna Estratégia militar, dispondo  de meios velocíssimos de transporte aéreo, porta-aviões e esquadras de grande mobilidade, esta bacia oceânica bem pode ser considerada como o lago do Atlântico Sul. A beira desse lago, vivem como condôminos as cinco Nações sul-americanas do  Cone Sul, acima citadas, e mais 20 palses da costa africana. Se esta comunidade de Nações algum dia for capaz de associar seus interesses econômicos e de segurança, terá construído uma das  mais prósperas sociedades do mundo.
Ainda considerando nossa posição no Atlântico Sul, nossa participação em operações científicas na Antártida já é fato consumado. A respeito dos recursos naturais da Antártida vale ressaltar que já foram descobertos   carvão, manganês, petr6leo, ferro e urânio, além de valiosas fontes de  energia geotérmica. Nações do Hemisfério Norte que, face ao critério de defrontação marítima, nenhuma alegação de direito poderiam invocar, ali estão com seus laboratórios e suas pesquisas nas massas geladas da Antártida: Estados Unidos, União Soviética, França, Japão e Noruega.
No enfoque particular da Estratégia militar brasileira queremos deixar claro que a proteção das linhas de comunicação no Atlântico Sul não é tarefa que possa caber ao Brasil, riem a uma comunidade de parses regionais (América do Sul e África. Aí estão em jogo importantes interesses estratégicos das superpotências. Aí será  área de confronto militar desses interesses.
Nossa Estratégia marítima nacional não pode ter outra pretensão senão defender nossas águas territoriais, nossas costas e proteger nossos comboio marítimos mais importantes. Nossa estrutura militar deve responder a estas servidões.
Nesta área geoestratégica não devemos desestimar a circunstância de vir a se impor a necessidade de se estabelecer uma subárea no saliente nordestino, a fim de responder a eventuais ameaças vindas de fora do continente, como aconteceu por ocasião da II Guerra Mundial.
Não queremos terminar estas considerações sobre a estratégia do Atlântico Sul sem mencionarmos que, no campo das idéias, já começa a se esboçar uma Estratégia marítima mais ampla do Hemisfério Sul da qual participariam, como atores principais, a América do Sul (parte sul do Equador), a metade sul da África, a Austrália, Nova Zelândia e Indonésia, banhados pelas águas do Atlântico Sul, do Oceano Indico e do Pac (fico Sul.
Estratégia para a Bacia do Prata -A Bacia do Prata, com a superfície de cerca de 3,2 milhões de quilômetros quadrados  e uma população de 90 milhões de habitantes, o que correspon¬ de à densidade demográfica de 28 habitantes por km2, constitui a região mais rica da América Latina com um produto bruto  de 250 bilhões de dólares e um per capita de 2,500 dólares. Esta  área privilegiada foi objeto, na era colonial, de agudos antagonismos políticos seguidos de operações militares por parte das Coroas de Portugal e Espanha. Os governos independentes de Buenos Aires e Rio de Janeiro herdaram estes antagonismos e os exacerbaram através de algumas ações militares que, praticamente, tiveram seu fim com o reconhecimento da independência do Uruguai em 1828. A guerra da Tríplice Aliança (1864-1869), que ensangüentou a Bacia do Prata, tevê uma causa isolada - a ambição de expansão territorial do Chefe do governo do Paraguai, Francisco Solano Lopes; tanto assim que uniu em defesa de seus territórios invadidos o Brasil e a Argentina, que tiveram como terceiro aliado a República Oriental do Uruguai.
Na segunda metade do 'século XIX e nas primeiras décadas deste século houve algumas tentativas de grupos extremados em reavivar os velhos antagonismos entre a Argentina e o Brasil, as duas maiores Nações platinas; mas, felizmente, sempre prevaleceu  o bom senso de estadistas e políticos moderados de ambos os países.
Mais recentemente, estes mesmos grupos radicais, saudosistas de uma política de rivalidades, tentaram levantar, sob ângulo conflitivo, a tese sobre a exploração' das águas de rios interna¬cionais, a fim de criarem, novamente, um clima antagónico entre as duas Nações. Afinal, mais uma vez superou o principio de cooperação e se chegou ao desejado. entendimento na questão da construção das obras hidrelétricas de Itaipu, Corpus e laciretá.
Desde o ano de 1967, o Tratado da Bacia do Prata, reunindo numa comunidade regional os interesses dos países  -Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia - vem funcionando como. importante instrumento canalizador de projetos  e mantenedor de equilíbrio multinacional.
Ultimamente, com alguma insistência, surge a tentativa ,de criação de nova comunidade regional na parte austral do continente sul-americano. Esta comunidade - o Cone Sul - viria acrescentar à Bacia do Prata mais as áreas da Patagônia, dos Andes argentinos e chilenos e o Chile.  Não vemos para o Brasil nenhum interesse estratégico maior em abandonar uma política integracionista regional que vem dando certo há quase 20 anos, em troca de um sistema regional por se fazer e que teria que incorporar, como fatores de dificuldades, as rivalidades territoriais latentes entre a Argentina e o Chile.
Hoje em dia, não persistem na área platina rivalidades agressivas, mas apenas reivindicações passiveis de tratamento pela via diplomática.
Em que pese o clima de entendimento alcançado nessa bacia fluvial, não é licito ignorar-se que as situações políticas são mutáveis e que um pais que ocupa a maior área na comunidade, como o nosso, não deve deixar de manter, em sua região de fronteiras, um dispositivo militar capaz de responder a qualquer imprevisto.
Nossa Estratégia militar para essa área deve responder a uma atitude defensiva de cobertura, vigilante, com capacidade de pronta resposta.
Estratégia para a Amazônia - A Amazônia, englobando em sua bacia fluvial um território de 7 milhões de km2, criando uma comunidade internacional de oito países diferentes, é a maior região natural do mundo.
O amazonôlogo Prof. Samuel Benchimol assim a identifica:
•             vigésima parte da superfície terrestre;
•             quatro décimos da América do Sul;
•             três quintos do Brasil;
•             um quinto da disponibilidade mundial de água doce;
•             um terço das reservas mundiais de florestas latifoliadas.

Em contraste com esta imensidão de terras, águas e flores¬tas abriga apenas 0,0025 da população mundial. A bacia pan-amazônica é duas vezes maior que a do Missi¬ssipi e duas vezes e meia maior que a do Nilo.
De sua enorme extensão, 70% são cobertos de espessa floresta latifoliada, na calha baixa dos rios, e 30% por florestas mistas de transição: cocais, 'cerrados e savanas nas ladeiras das cordilheiras dos Andes e das Guianas e do planalto central brasileiro.
Nesta imensidão, o Brasil ocupa 70% da área com um terri¬tório de 5 milhões de km2. A Amazônia Brasileira possui uma costa marítima de 1500 km2 e é envolvida por uma linha fronteiriça continental de 11.000 km. Este desequilíbrio, fronteira terrestre/fronteira marítima  mostra a marca da continentaidade da nossa Amazônia  nitidamente, uma vasta região de vocação predominantemente continentalista. Sua região ocidental polarizada em torno de Manaus, suas alon¬gadas fronteiras terrestres com oito diferentes parses constituem o verdadeiro centro da massa continental sul-americana. Faltam-lhe povoamento, articulação via economia próspera e comunicações; não fora isto, seria a placa de manobra da intercomunicação continental entre a maioria dos países sul-americanos e, para alguns, a opção de sarda para um oceano mais ecumenizado, comercialmente mais dinâmico -o Atlântico.
Até os anos 50 predominou no Brasil a idéia que o rio Amazonas e seus afluentes seriam a grande via de desenvolvimento da região. Foi a era da ilusão grande estrada liquida. A partir dos anos 60, nossos estadistas e governantes começaram a entender que a implantação do desenvolvimento moderno não pode depender apenas do capricho dos rios, com seus traçados naturais, suas cachoeiras, suas cheias e vazantes. Começou então o programa de estudos de estradas de rodagem, tentando articular o corpo amazônico em consonância com um projeto político-econômico.   Foi um esforço enorme, desco¬munal, da administração brasileira.
Do ponto de vista geoestratégico podemos distinguir duas regiões amazônicas: a chamada Amazônia Oriental, gravitando em torno de Belém e São Luis, projetando-se para o segmento nordeste do nosso Atlântico, onde as forças da maritimidade predominam sobre a continentalidade. A atração do mar, ar, se faz sempre presente. Voltada para fora, para o Caribe, para Gibraltar, para a Europa Ocidental. E a Amazônia Ocidental, onde as influências marítimas chegam muito atenuadas; obrigada a viver seu destino continental, em termos de articulação vial e economia interna, se quiser progredir; voltada para dentro" com seus interesses conver¬gindo e se irradiando de Manaus -pólo vivificador das imensas regiões fronteiriças -e, particularmente, das áreas lindeiras de inter-comunicação, Boa Vista, São Gabriel da Cachoeira, Tabatinga, Cruzeiro do Sul, Rio Branco, Porto Velho e Guajará Mirim, com os países vizinhos.
Este imenso vazio demográfico que é a Amazônia Brasileira, onde nossa ocupação é de 2 hab/km (a média brasileira é de 16 hab/km, do México é de 34 hab/km, da India 190 hab/km, da Ale¬manha Ocidental 250 hab/km e do Japão 295 hab/km), devemos projetar uma Política militar, orientadora de uma estratégia. Já deixamos claro que nossa Estratégia militar geral deve se enquadrar na postura defensiva. As duas regiões geoestratégicas - Amazônia Oriental e Amazônia Ocidental - giram em torno de geoestratégias diferentes. Na Oriental deve predominar a Estratégia com predominância aeronaval: defesa do litoral, dos portos; defesa contra as penetrações, particularmente pelo grande rio; vigilância na fronteira terrestre e manutenção de uma capacidade de transporte mar (timo protegido e de transporte aero terrestre de médio raio de ação. Na Ocidental, a vigilância ativa nas regiões fronteiriças., em ;particular nas regiões de intercomunicação internacional, capacidade de ma¬nutenção de uma reserva operacional aero terrestre e de transporte aéreo e fluvial para áreas tornadas criticas.
Obs.:     Não estão incluídos os dados sobre as Repúblicas de Guiana e Suriname, que pelo critério de contigüidade geográfica e similitude ecológica foram incluídos no Pacto Amazónico.
Excluímos de nossa análise a hipótese de guerra transconti¬nental, do tipo Força Expedicionária,. porque suas características teriam conotações nitidamente políticas e escapariam ao âmbito de nossa geoestratégia; esta hipótese estaria no âmbito das alianças.
Conclusões
Desejamos concluir este capítulo, em que tratamos de "Fundamentos para uma Estratégia Militar Brasileira", apresentando algumas idéias muito gerais sobre uma Estrutura e uma Organização de Forças capaz de atender à atitude estratégica defensiva ativa, dinâmica, que preconizamos.
Em primeiro lugar, queremos salientar que o efeito estratégico que devemos perseguir nessa atitude defensiva é o de criar uma força de dissuasão que desencoraje qualquer atitude agressiva que os azares da Política puderem vir acalentar entre nossos vizinhos da América do Sul. Como se sabe, a dissuasão é preventiva; quando funciona tem a virtude de conter o pior, o confronto armado. Nes¬te conceito de dissuasão devem compreender nossa estratégia militar nuclear. Devemos também nos manter preparados para a defesa de nossa costa marítima, nossas águas territoriais e espaço aéreo.
Igualmente devemos fortalecer, em nossos quadros de oficiais e sargentos, e em nossa tropa em geral, um espírito democrático combativo, impenetrável à propaganda ideológica marxista-leninista. O Brasil que queremos e que nos comprometemos a defender é um Brasil democrático cujo aperfeiçoamento não passa pelos caminhos utópicos do marxismo.
Em termos de comando, optaríamos ter um comando combi¬nado geral e um para cada uma das três áreas estratégicas citadas - Atlântico Sul, Bacia do Prata e Amazônia. As mutações estratégicas poderiam nos aconselhar a criar subáreas estratégicas no Nor. deste, particularmente ante uma ameaça extracontinental e outro na região Centro-Oeste.
Não se deve esperar o momento da crise para se organizar es¬tes comandos combinados; é mister, desde o tempo de paz, nos altos. escalões, adquirir o hábito das estruturas interforças e exercitar a técnica de Estado-Maior Combinado.
No que tange à estrutura das armas singulares é desejável, em relação ao Exército, manter forças de cobertura adestradas nas fronteiras vivas e núcleos de vigilância no restante das fronteiras terrestres, conservando uma reserva geral móvel aero terrestre e aerotransportada, de pronto emprego, assim como uma reserva regional nas mesmas condições de mobilidade na Amazônia.
No tocante à Marinha de Guerra, respeitando as necessidades de vigilância e defesa que já levantamos, para a atualidade e em médio prazo, devemos dar prioridade às missões de proteção do tráfego marítimo em águas próximas e nos limites da fronteira marí¬tima. Devemos possuir uma força capaz de, eventualmente, proteger comboios marítimos no Atlântico Sul, até limites além de nos¬sas águas patrimoniais, sozinhos ou em cooperação com forças aeronavais aliadas. Um sistema de bases deve atender às necessidades de defesa dos pontos sensíveis no litoral e, futuramente, estender-se aos nossos arquipélagos oceânicos mais importantes no Atlântico Sul.
No que diz respeito à Força Aérea, as missões predominantes serão de esclarecimento, patrulha, caça e caça-bombardeio. O sistema de defesa aérea deve ser constantemente ampliado e modernizado, de modo a incluir as nossas três áreas estratégicas -Atlântico Sul, Bacia do Prata e Amazônia e suas irradiações de meio alcance. Nossas indústrias aeronáutica, eletrônica e de informática em poucos anos estarão 'em condições de oferecer equipamentos nacionais para as missões acima enumeradas. Há necessidade de ajustar um sistema de bases para atender a cada uma das três áreas geoestratégicas citadas. No tocante à Estratégia para o Atlântico Sul é importante instalar a base aeronaval do Arquipélago de Trindade. O transporte aéreo militar deve ser constantemente atualizado às necessidades e modernizado. Deve ser mantida uma aptidão permanente para apoio às operações terrestres e navais, táticas e estratégicas e para o apoio logístico operacional.
Eis as idéias que queríamos deixar à meditação' de nossos cientistas políticos e estrategistas.

CONCLUSÕES
"Na verdade a Estratégia não deve de ser uma doutrina única, mas um método de pensamento que permita classificar e hierarquizar os acontecimentos e depois procurar os processos de ação, os meios eficazes. A cada situação corresponde uma estratégia particular; toda Estratégia poderá ser a melhor para certas conjunturas possíveis e a pior para outras conjunturas. Esta é a verdade essencial." (General Beaufre)
Percorremos a saga traçada pelas principais teorias sobre a guerra e sobre a Estratégia militar, desde os escritos do General chinês Sun Tzu, do século V antes de Cristo, até as últimas proje¬ções do conflito anunciadas pela chamada guerra espacial ou guer¬ra nas estrelas. Foram cerca de 2.500 anos de percurso.
O fenômeno bélico é mais antigo. Acompanhou a História da humanidade desde a formação das primeiras aglomerações. O homem, segundo Kant, é dotado, pela natureza, de quatro tipos de temperamentos: sentimental, melancólico, colérico ou fleumático.
Em qualquer caso, entretanto, variando seus métodos de ação, luta por um mesmo fim impor a sua vontade sobre os outros. Aí está a origem de todas as guerras que vêm manchando de sangue a história do planeta. Organizado em grupos, Nações, Estados, esta vontade natural de impor sua vontade transfere-se para as coletivi¬dades. Cabe aqui repetir o pensamento de Plauto: "O homem é para outro homem um lobo e não um homem."
Segundo Sun Tzu, encarnando o tempo do povo chinês, a guer¬ra deve ser conduzida sem sangue, se possível, e com um mínimo de destruição; pode ser longa, não importa.
Já  Clausewitz, interpretando o temperamento alemão, prefere a guerra brutal e rápida. Jomini, contemporâneo de Clausewitz, suiço de educação francesa, em sua teoria sobre a guerra atenua a brutalidade do choque decisivo procurado pelo escritor prussiano, dando lugar, no palco bélico, com relativo peso decisório, às guerras de opinião, à guerra psicológica, à guerrilha.
Liddell Hart prefere combinar choque e movimento, com pre¬dominância deste.
O General Beaufre, pressionado pela violência crescente da ameaça nuclear, buscou na sua estratégia de dissuasão (deterrência). uma contenção recíproca pelo medo.
O Presidente Reagan, em 1983, ao lançar o seu programa de guerra espacial, primeira tentativa de Estratégia defensiva contra a agressão nuclear, declarou solenemente que convocava a comunidade científica norte-americana, aquela mesma que produzira a arma nuclear, "para voltar, agora, os seus talentos para a causa da humanidade, oferecendo os meios para tornar essas armas impotentes e obsoletas".
Entretanto, no decorrer desses dois e meio milênios, nem Sun Tzu, nem Clausewitz, Jomini, Beaufre, Liddell Hart ou Reagan apresentaram solução ao problema original da guerra, a "tendência natural do homem de querer impor a sua vontade"; ofereceram, sim, formas mais suaves ou mais duras de impô-Ia.
Nessas formas deverá ser encontrada a Estratégia militar, a arte de aplicar as forças e o instrumental bélico.
No decorrer do tempo, este entre militar que compõe as forças e este instrumental evoluiu tremendamente. O instrumental, as chamadas armas e engenhos bélicos sujeitos à transformação da ciência e da tecnologia, atingiu a alcances, potência destruidora e precisão de emprego inimagináveis, particularmente neste século
A cada inovação técnica aplicada às armas ou engenhos, deve corresponder uma redimensão da Estratégia. Os chefes militares e Estados-Maiores são obrigados a uma atualização constante de conhecimentos novos, a fim de não serem ultrapassados quando no campo de batalha terrestre, mar (timo, aéreo ou espacial. Toda a defasagem entre a nova arma e a capacidade da força em utilizá-Ia tem custado um alto preço em vidas e bens às Forças e às Nações envolvidas em conflitos bélicos. Sobre este tema, o Marechal-de-Campo Michael Carver, no seu livro War Lords, analisando as baixas vultosas em efetivos e danos mqteriais resultantes da Grande Guerra (1914-1918), onde as per¬das em vidas humanas na Europa alcançou a elevada cifra de 10.000.000, a maioria massacrada numa guerra de trincheira, de inércia, de fricção, carente de imaginação e sem sentido, diz o seguinte:
"O século XX trouxe novas dimensões à guerra. Neste livro eu procurarei analisar como as maiores figuram de chefe militar das duas guerras mundiais da primeira metade deste século pro¬curaram exercer o comando, dirigir as operações, em condições que lhes eram estranhas, com as quais não estavam familiarizados, particularmente no que se refere à Grande Guerra.
O passo de evolução da técnica provocou mudanças rápidas no cenário bélico e a tendência do profissional militar é de ser conservador no período entre guerras, por falta de oportunidade de experimentar por si mesmo as inovações surgidas. Durante as últimas guerras, as mudanças foram tão rápidas que se tornou difícil a qualquer um a elas se adaptar na primeira hora, mas, acontece que se adaptar imediatamente é imperioso a todos os participantes.
As guerras aceleram o processo de desenvolvimento tecnológico. Novas armas e novos engenhos chegam superpondo-se aos antigos, forçando um período de adaptação. As armas novas provocam o surgimento de novas técnicas protetoras que são obrigadas a conviver lado a lado com as velhas armas e técnicas ultrapassadas. O veículo a motor e o avião foram ambos empregados na Guerra de 1914, mas, até o final da II Guerra Mundial, a massa dos transportes das forças terrestres alemãs e soviéticas era puxada a cavalo.
Mesmo na idade da arma nuclear, o fuzil e a baioneta originária do pique estão ainda em serviço.
“As figuras de principais chefes militares analisadas neste livro foram comandantes de grande responsabilidade”.
Mais adiante o Marechal Carver chega à raiz do problema do descompasso entre a evolução da tecnologia aplicada à guerra e a capacidade dos chefes militares em empregá-Ia oportunamente:
"As condições em que se desenvolveram as operações na I Grande Guerra revelam que os seus participantes foram surpreendidos pelas inovações. Os meios de transporte disponíveis, a curta distância entre a base logística e o front permitiram o desdobramento de enormes efetivos e montanhas de materiais. O suprimento requerido em grandes quantidades incluía itens inteiramente novos: o transporte motorizado e todas as suas necessidades de combustíveis e manutenção, o carro-de-combate, o avião, a radiotelefonia, o submarino, tudo isto sendo usado pela primeira vez numa guerra européia. As novas versões da metralhadora, das minas, dos gases de comba¬te e dos explosivos. Todas estas novidades acrescentaram complicações não apenas aos comandos operacionais, mas também ao apoio logístico e a mobilização industrial.
“Não resta dúvida, hoje em dia, que os principais chefes militares da I Grande Guerra não foram capazes de captar a correta potencialidade dessas novas armas e engenhos”
Agora, algumas palavras sobre a importância do estudo da Estratégia militar. Analisando os confrontos bélicos que se sucederam à II Guerra Mundial, Argélia, Indochina, Cuba, Berlim, OTAN versus Pacto de Varsóvia, o General francês André Beaufre, que no dizer de Liddell Hart era, então, o maior estrategista contemporâneo (o escritor ingles escrevia em 1963), assim se expressava:
"Minha conclusão é que, em grande parte, a ignorância da Estratégia nos tem sido fatal.
As razões desta ignorância são interessantes. Eu as indicarei de passagem neste estudo. Mas o que é importante de se destacar é que o desapreço pela Estratégia, de parte dos vencedores de 1918 provinha do fato que não se lhes havia ensinado a Es¬tratégia, mas uma falsa estratégia apresentada como a alfa e o ómega da arte'.
Na verdade, a Estratégia não deve ser uma doutrina única; mas um método de pensamento que permita classificar e hierarquizar os acontecimentos de depois procurar os processos de ação, os meios eficazes. A cada situação corresponde uma estratégia particular; toda estratégia poderá ser a melhor para certas conjunturas possíveis e a pior para outras conjunturas. “Esta é a verdade essencial”.
Dissemos acima que o móvel principal das guerras é a vontade de superação. Segundo vários clássicos, a guerra é uma luta entre duas vontades; vence a mais forte.
Quais seriam as características desta vontade do mais forte? Não há dúvida que ela tem que ser polarizada no chefe e transmitida aos comandados. Esta vontade mais forte do chefe deve se traduzir em firmeza de caráter e inteligência. Ambos os valores integram o contexto da Estratégia militar -a arte de empregar os meios, o instrumento bélico.
Outra forma de atingir a vontade é a infiltração ideológica en¬fraquecendo as convicções e a disposição para lutar. E o método aplicado pela Estratégia do comunismo internacional, que se apresenta encoberto sob vários matizes e disfarces. A este tipo insidio¬so de guerra é preciso opor as convicções democráticas irremovíveis e sempre vigilantes dos quadros e tropa de nossas Forças Armadas.
A característica fundamental da chefia militar permaneceu imutável através dos tempos. Tanto um General Sun Tzu, como um Alexandre da Macedônia, ou Eisenhower só foram vitoriosos porque superaram seus adversários em vontade e inteligência.
Numa versão mais moderna, o "talento do chefe", de Que nos fala Clausewitz, se traduz em algo mais despersonalizado e mais institucionalizado - o Comando. Por Comando se compreende a pessoa do Comandante, o Estado-Maior e outros órgãos de supervisão. Não resta dúvida que a pessoa do Comandante é a principal peça do Comando. Para Clausewitz, o Comandante deverá possuir o "genius" para a guerra. Por isto se entendendo ser possuidor de "uma alta capacidade para empregar os meios à sua disposição". A importância da personalidade do chefe na concepção e aplicação da Estratégia é de tão alta valia, que se torna essencial, em toda Força Armada, a cuidadosa formação e seleção daqueles que se destinam aos comandos. . O aperfeiçoamento das virtudes da vontade e da inteligência terá que ser feita durante toda a carreira. Exige estudo, exercício de comando, gosto pela pesquisa profissional, interesse pelas inovações da tecnologia e suas conseqüências táticas e estratégicas. Na Estratégia militar predomina entre os fatores considerados-um dos efetivos, da tecnologia, da organização, do moral dos combatentes e da população civil - o valor do chefe. Ele projeta sua personalidade ao conjunto, instila confiança, dirige a inteligência estratégica.
Ao lado da excelência do chefe, há de existir uma cadeia de oficiais do Estado-Maior e de comandos igualmente firmes e aptos. A História nos mostra que o Almirante Nelson, Frederico, Napoleão, Eisenhower não teriam seus nomes consagrados pela vitória se, além de suas excepcionais qualidades de chefe, não tivessem a seu serviço assessores e executantes capazes de cumprir suas ordens.
Na guerra como em todo o empreendimento maior, no passa¬do, no presente e no futuro, em que pese a mais avançada tecnolo¬gia, o sucesso dependeu, depende e dependerá do homem. O pensamento de Spinoza  - "Nada mais importante ao homem que o próprio homem"  -impera através da História, na paz e na guerra, e projeta-se com toda a força no futuro.

BIBLIOGRAFIA
ARON, RAYMOND. Penser la Guerra. Clausewitz, 2 volumes. Editions Galli• mard, Paris, 1976. BACKEUSER, EVERARDO. A Geopolltiea Geral do Brasil. Rio de Janeiro, Bibliex, 1952. BAD IA MALAG RIDA, CARLOS. Elfaetor geografico en la politica sud-aine• rieana. Madrid, 1905.
BEAUFR E, AND RÉ. An Introduetion to Strategy. New York, Praeger, 1966.
BRADLEY, OMAR.A Soldier'sHistory. New York, Popular Library,1964.
CAMINHA, JOÃO CARLOS GONÇALVES. Delineamentos da Estratégia. Rio de Janeiro, Bibliex, 3 volumes, 1983. CASTELLO BRANCO, HUM8ERTO. A Estratégia. Rio de Janeiro, Confe• rência na ESG em 1962.
CASTEX, HUMBERT. Theories Estrategiques. Paris, 1937.
CLAUSEWITZ, KARL VON. On War. London,'Penguin Books, 1968.
CUNE, RA Y. World Power Assessment -A Caleulus of Strategie Drift. Georgetown University, Wash. DC, 1975. COUTO E SI LVA, GOLBERY. Geopolltiea do Brasil. Livraria José Olympio, 1967.
EISENHOWER, DWIGHT. Crusade in Europe. Doubleday, 1948.
FULLER, JFC. A Conduta da Guerra. Rio de Janeiro, Bibliex, 1966.
GLUCKSMANN, ANDRÉ. Le Discours de la Guerre. Editions de I'Herne. Paris, 1967.
GRIFFITH, SAMUEl. Mao Tze Tung on Guerrilla Warfare, New York, Prae• ger, 1961.
JOMIN I, ANTOINE HEN RI. Precis de I'Art de la Guerre. Paris,. 1838. LENINE, WLADIMIR ULlANOV.Stateand Revolution. Moscou, 1918. L1DDE'LL, HART. As Grandes Guerras da História. São Paulo-Ibrasa, 1954.
MACHIAVELLI, NICOLO./1 Principe. Milano, 1916.
MAHAN, ALF RED T. The influence of the sea power. 8oston, Little 8rown, 1949.
MORGENTHAU, HANS. Politics Among Nations, 8orzoi 8ooks, Chicago, 1949. RATZEL, FRIEDRICH. Geografia Pol{tica. Munich. SCHNEIDER, RONALD. The PoliticaI Svstem of Brazil. Columbia University Press, NY, 1971.
SPYKMAN, NI CHOLAS. Estados Unidos frente aI mundo. México, Fundo.de
Cultura Econômica, 1944.
SLlM, WILLIAM. Defea